Em reunião virtual, ATI anuncia mudança de coordenação, informa sobre as tarefas em curso e alinha rumos do trabalho com as pessoas atingidas
Na noite da última terça-feira (14/06), a Assessoria Técnica Independente (ATI) Paraopeba Nacab realizou Reunião Ampliada da Região 3 da Bacia do Paraopeba, com o objetivo de dialogar sobre o atual cenário do processo de reparação e o trabalho da equipe. O encontro ocorreu em plataforma online e contou com a participação de mais de 60 pessoas atingidas, além de 20 profissionais da ATI.
A reunião foi aberta com a notícia da mudança na coordenação geral da ATI Paraopeba. Flávio Bastos, que ocupou a função em outubro de 2020, deixa o cargo para assumir como professor de agricultura e agroecologia no Instituto Federal Baiano, no campus de Xique-Xique, na Bahia.
Durante a reunião, ele explicou que seguirá o sonho da carreira acadêmica e de retorno à sua terra natal, e agradeceu a parceria de todas e todos das comissões e comunidades, além da experiência construída na luta por uma reparação justa, integral e célere.
“Sou muito grato por ter participado com vocês de muitas batalhas, com vitórias, algumas perdas e muitos desafios, o que faz parte da história de quem luta. Quero desejar a vocês muita saúde, sorte, força, perseverança e união. Estamos num conflito socioambiental em que é preciso ter sabedoria, paciência, parceria. Continuem firmes e fortes, para vencerem as dificuldades e conquistarem seus direitos, com toda a bacia”, disse Flávio, afirmando que continuará acompanhando e disponível, como membro do Nacab.
Quem assume a posição de coordenadora geral da ATI Paraopeba é a engenheira florestal Marília Fontes, que já estava na gerência geral da ATI e é a atual presidenta da instituição Nacab.
“Como mulher, ela fortalece ainda mais a luta. Uma pessoa com muito comprometimento, capacidade técnica e política para coordenar a equipe e dar continuidade ao trabalho. Alguém que conhece tudo da ATI e que temos plena confiança”, anunciou Flávio.
Marília Fontes reforçou seu compromisso, empenho e dedicação: “Estive nos últimos dois anos na gerência geral, cuidando dos processos finalísticos da ATI e próxima às coordenações de campo, buscando mais conhecimento e acesso às questões de cada território, comissão e pedacinho da região 3. Vamos continuar juntas e juntos. Temos o grande desafio da união e da interlocução com outras regiões”.
Ofício das Instituições de Justiça
Em seguida, foi apresentado na reunião o andamento das tarefas solicitadas pelas Instituições de Justiça, em ofício entregue em abril deste ano, que estão sendo desenvolvidas neste trimestre pelas ATIs. As tarefas dizem respeito a: proposta de gestão e governança do anexo 1.1; sistema de participação; aos povos e comunidades tradicionais (PCTs); demandas emergenciais; matriz de danos; plano de reparação socioambiental (PRSA); e Programa de Transferência de Renda (PTR).
Durante as apresentações, feitas por responsáveis das referidas áreas, representantes de comunidades e comissões fizeram perguntas, considerações e sugestões, a fim de esclarecer dúvidas e contribuir. Houve também relatos, como o de Carlos Moreira (Pai Riquinho), morador do Quilombo da Pontinha e líder de uma casa de umbanda. Ele contou sobre o atingimento e a invisibilidade dos povos de terreiro, que passam dificuldade para manter seus encontros, trabalhos e rituais religiosos, após a contaminação do rio e os abalos na biodiversidade local.
“A gente tem que lutar junto e não achar que um tem mais direito que o outro, pois todos lutam em prol de uma coisa só e a Vale que é a nossa inimiga. Temos que ter provas concretas para levar às autoridades e a ATI pode nos ajudar a mostrar tudo o que perdemos”, defendeu Pai Riquinho.
Sobre a falta de acesso à água de qualidade, Patrícia Passarela, da comunidade de Taquaras, em Esmeraldas, falou sobre a necessidade de rever critérios que negam acesso às medidas emergenciais que a Vale é obrigada a executar e defendeu que haja mais cobrança e pressão para respostas. “Os compromitentes (do acordo judicial) não vêm aqui para beber de nossas águas. Tem que debater isso, pois o retorno está muito lento e várias pessoas têm ficado doentes”, desabafou.
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Reportagem e narração: Marcos Oliveira
Edição: Leonardo Dupin e Brígida Alvim