Circulação de veículos pesados, a serviço da Vale, na comunidade de São José, em Esmeraldas, traz prejuízo e medo para famílias que já se encontram em situação vulnerável desde o rompimento da barragem de Córrego do Feijão
Um dos problemas que tiram o sono das pessoas atingidas pelo desastre-crime da Vale ao longo da Bacia do Rio Paraopeba, são os danos estruturais em seus imóveis. Gerados no pós-rompimento, em 2019, eles são causados, dentre outros fatores, pela movimentação intensa de caminhões e máquinas pesadas a serviço da mineradora e intensifica a situação de vulnerabilidade das pessoas e comunidades já afetadas pelo desastre-crime da mineradora.
As pessoas da comunidade de São José, no município de Esmeraldas, são algumas das que sofrem com a circulação desses veículos. Elas relatam diversos problemas que passaram a ter que conviver desde o rompimento da barragem, provocados novamente pela mineradora. Vários imóveis da comunidade, atualmente repletos de trincas e rachaduras, correm risco de desabar por conta de ações da mineradora que, desde o desastre-crime, intensificou a circulação de veículos pesados pelas ruas e estradas de terra da comunidade. Veja o vídeo:
Esse é o caso da Janira Martins de Souza, moradora da comunidade. Ela conta um pouco sobre o que vem passando em São José: “acordei com a casa tremendo! Um vidro da janela chegou a soltar. Eu estava muito assustada e quando fui ver era um rolo compactador passando na rua. Tive que ir correndo pedir pra parar imediatamente porque fiquei com medo da minha casa cair”.
Dona de uma casa na comunidade, Janira ainda pode mostrar o reflexo da movimentação das máquinas pesadas que a Vale S.A mandou até a comunidade. Uma parte do telhado está cedendo, as trincas pelo chão estão por toda parte do quintal e a piscina apresenta trica e está comprometida. “Eu falei com o encarregado da atividade e expliquei o que estava acontecendo e ele ficou de mandar um engenheiro da Vale, mas até hoje eu não tive retorno”, relata.
Reparação que causa novos danos
De acordo com as pessoas que vivem na comunidade, caminhões pesados são utilizados pela empresa para fornecimento de silagem destroem as estradas. E para reparar os danos causados às vias públicas são utilizadas máquinas pesadas, como os rolos compactadores, que acabam causando novos estragos.
“É pior que o abalo sísmico que teve em Minas Gerais. Passaram na minha porta dois rolos compactadores, mais de 100 caminhões de terra e de brita misturada com um saibro branco que só traz poeira”, conta Wagner Geraldo Campolina, pequeno produtor rural da comunidade. Ele conta que já teve que reformar a casa por conta das trincas que apareceram, além de relatar o aumento considerável de poeira que dificulta a respiração.
Wagner relata problemas na estrada que passa dentro do seu terreno, como danos aos mata-burros e cercas, e também a dificuldade que passou a ter com as placas de geração de energia solar, que não podem ficar cobertas de poeira. “Desde que houve esse desastre envolvendo a Vale, cada hora é um problema. Eu fiquei preso do lado de fora da minha propriedade porque não marcaram nem dia e nem hora comigo para começar a mexer na estrada”, disse.
De acordo com a analista da ATI Paraopeba – Nacab, que acompanha esses danos estruturais, Celiane Xavier, essas trincas e rachaduras acontecem devido à movimentação do solo causando o desequilíbrio estrutural nas construções. “O trânsito aumentado desse tipo de maquinário nas comunidades tem trazido consequências para edificações e para as estradas rurais, que não foram construídas com preparação para suportar esse tipo de fluxo. Portanto uma situação insegura para as pessoas atingidas dentro das suas próprias comunidades”, destaca a analista do Nacab.
Estudo de danos estruturais
A Assessoria Técnica Independente Paraopeba – Nacab desenvolveu estudos de levantamento dos danos estruturais nas diferentes comunidades da Região 3 da Bacia do Paraopeba que foram atingidos pelo desastre crime causado pela Vale. Esses estudos foram sistematizados e enviados para as Instituições de Justiça que atuam no processo de reparação.
Além dos danos causados pela movimentação de veículos pesados também foram identificados danos estruturais motivados pelo rejeito trazido pelas enchentes, que impermeabiliza o solo dificultando o escoamento das águas e trazendo problemas às estruturas das casas das pessoas atingidas. Nas três primeiras semanas após a forte enchente de janeiro desse ano, técnicos da ATI Paraopeba Nacab visitaram mais de 150 propriedades.
Texto: Marcio Martins
Edição: Leonardo Dupin
Vídeo: Daniel Drumond