A poeira levantada pelas máquinas pesadas que circulam nessa comunidade de Esmeraldas para retirada dos rejeitos tem gerado problemas respiratórios em moradores
Oito meses após o que é considerado por moradores como a maior enchente do rio Paraopeba dos últimos 40 anos, que levou uma grande quantidade de rejeito para as comunidades que vivem às margens do rio, começou na segunda-feira (15 de agosto), a limpeza das vias públicas e quintais atingidos pela cheia na comunidade de Taquaras em Esmeraldas.
A ação é resultado do Termo de Compromisso e Cooperação assinado pela mineradora Vale, o Estado de Minas Gerais e as Instituições de Justiça que atuam no processo que julga o desastre-crime. Taquaras é uma das quatro comunidades da Região 3 nas quais estão previstas para receber a equipe de limpeza, as outras são: Padre João, Bambus e Vinháticos, todas em Esmeraldas.
Ainda assim a área prevista para limpeza corresponde a menos de 2% do território atingido pelo rejeito no município. O documento determina que a limpeza ocorrerá somente em seis municípios da bacia do Paraopeba: Brumadinho, São Joaquim de Bicas, Juatuba, Mario Campos, Esmeraldas e Betim. Porém, esse último município recusou o acordo.
Segundo o encarregado da empresa contrata pela Vale, que está efetuando a ação de limpeza, o rejeito está sendo retirado e levado para um aterro sanitário localizado no município de Betim, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ainda de acordo com o trabalhador, 11 caminhões estão transportando cerca de 175 toneladas do material por dia.
Ainda que considerem importante a retirada do rejeito das vias e quintais das comunidades atingidas e que a prefeitura esteja fiscalizando a obra, os moradores de Taquaras registram a indignação pela poeira levantada por tratores, caminhões e outros maquinários, nesse período em que vem sendo realizada.
“Desde janeiro, após as cheias, a gente vem enviando ofícios solicitando essa limpeza, mas deixaram para realizar a ação somente agora que estamos em um período de seca e de ventos fortes. Já temos relatos de pessoas na comunidade que estão sofrendo com problemas respiratórios devido ao grande volume de poeira”, reclamou a liderança comunitária de Taquaras, Patrícia Passarela.
Emiliano Francisco da Silva, 79 anos, que também é morador da comunidade, relata a dificuldade que está sendo conviver com a poeira levantada pelas máquinas que estão trabalhando na limpeza.
“Está sendo um sofrimento terrível! Eu que tenho problemas de saúde estou sofrendo muito. Estou passando a noite acordado com muita falta de ar. É uma poeira diferente e doentia que pode causar alguma doença que a gente nem conhece. Se tivessem tirado esse rejeito em fevereiro a gente tinha sofrido menos”, ressalta Emiliano, conhecido na comunidade como “Seu Naninho”.
Termo de Compromisso e Cooperação
A limpeza das áreas citadas está prevista pelo termo de compromisso de acontecer em 90 dias, podendo prorrogar por mais 30 dias.
“Essa ação de retirada de rejeitos das áreas indicadas atende ao termo de compromisso e cooperação que fundamenta o convênio assinado com a Vale, que a prefeitura de Esmeraldas é signatária. Esse convênio aponta as áreas que devem ser limpas em caráter prioritário, mas são insuficientes e correspondem a menos de 2% do território atingido pelo rejeito em Esmeraldas. Pelo andamento dessa primeira semana dos trabalhos de limpeza, fica difícil de acreditar que será possível realizar a ação mesmo nessa área mínima que foi indicada”, ressalta o coordenador de campo da Assessoria Técnica Independente Paraopeba Nacab em Esmeraldas, Jean Costa.
A calha do Paraopeba no município de Esmeraldas é formada por nove comunidades, que tiveram 1.627 hectares de seu território atingidos pelas enchentes em janeiro de 2022, de acordo com levantamento feito pelo Nacab. No entanto, somente parte de quatro comunidades irão receber a limpeza, um total de 25,67 hectares (que representa apenas 1,57% da área total atingida).
Danos das cheias
Após as enchentes em janeiro deste ano, uma equipe multidisciplinar do Nacab percorreu 150 propriedades mapeando os pontos de inundação e os danos causados pelo rejeito de minério trazido de volta à superfície. Os resultados gerais desse levantamento foram reunidos em um relatório técnico e entregues para as Instituições de Justiça.
Acesse abaixo o relatório entregue e relembre o estudo na série de vídeos produzida pelo Nacab:
Ouça esta notícia:
Matéria, fotos e narração: Marcio Martins
Edição: Leonardo Dupin
Vídeo: Grax Medina