Dezenas de pessoas atingidas pelo desastre-crime da Vale da Região 3 da bacia do rio Paraopeba discutiram um sistema de participação para a reparação e comercializaram produtos de suas comunidades
Nos dias 11 e 12 de fevereiro, a Praça Torquato de Almeida, em Pará de Minas, recebeu a Feira Cultural da Reparação. O evento foi idealizado pelo Nacab juntamente com a Rede de Atingidos da Região 3 da bacia do rio Paraopeba, as comissões locais, distribuídas em 10 municípios (Esmeraldas, Florestal, Pará de Minas, São José da Varginha, Pequi, Maravilhas, Papagaios, Fortuna de Minas, Caetanópolis e Paraopeba), e contou com a parceria da Prefeitura de Pará de Minas.
O objetivo principal da feira foi discutir a construção regional de um sistema de participação para que concentre a organização popular das pessoas atingidas e realize o controle social das ações da reparação. Além disso, a iniciativa deu visibilidade à diversidade cultural e produtiva da Região 3, impactada pela contaminação do Rio Paraopeba, com a comercialização de produtos agrícolas, alimentícios e de artesanato produzidos por famílias atingidas.
O Sistema de Participação se faz importante para as lutas locais e quando a gente debate a sua construção, envolvendo os 10 municípios da região 3, há mais força e a garantia de que ele seja a cara das pessoas atingidas, representando toda a região e não apenas um grupo. Um sistema que tenha um formato capaz de atender as diferentes demandas trazidas por cada região. Fazer essa união, esse debate e, enfim, construir esse sistema é sensacional”, concluiu Ana Alice Tanure, comunidade de Padre João, em Esmeraldas.
Quando a gente fala em reparação, o primeiro ponto é a oportunidade para reconstruir, buscar uma fonte de renda, e é isso que aconteceu na feira da reparação. Ficamos muito satisfeitos com tudo que aconteceu, a estrutura, sendo muito importante a participação dos 10 municípios e a diversidade, cada um com o seu produto e especificidades locais, agregando para esse evento que superou nossas expectativas”, afirmou Juliano Barbosa, da comunidade de Córrego de Areia, em Fortuna de Minas
A programação da feira ainda contou com shows, mostra de cinema, exposição de fotos, atividades culturais e estandes com informações sobre o andamento do processo de reparação, além de espaços de denúncia sobre os danos causados pela desastre-crime provocado pela Vale.
Na feira, houve a troca com as pessoas atingidas e elas dialogam entre si, informando e repassando quais foram seus danos. Em seus espaços, o Nacab falou mais especificamente sobre o Plano de Reparação Socioambiental; danos aos Povos e Comunidades Tradicionais, mais os Povos de Terreiro, com a religiosidade de matriz africana; danos relacionados às mulheres e à saúde, além da juventude organizada”, resumiu Daniel Nakabayashi, da Secretaria Executiva da ATI Paraopeba Nacab.
Saúde em foco
Também como parte da Feira Cultural da Reparação, na manhã do domingo, 12 de fevereiro, o Museu de Ofícios, localizado na antiga estação Ferroviária de Pará de Minas, recebeu a I Conferência Livre de Saúde da População Atingida da Região 3 da Bacia do Rio Paraopeba. O evento foi organizado pela Rede de Atingidos por Barragens da Região 3 e pelo movimento Paraopeba Participa, com apoio da ATI Paraopeba NACAB. A conferência foi acompanhada por representantes do Conselho Estadual de Saúde de Minas Gerais (CES-MG) e do Conselho Municipal de Saúde de Pará de Minas.
No espaço, foi debatido a importância de se reivindicar um maior comprometimento com a saúde da população atingida no Acordo de Reparação Coletiva e dentro do processo judicial contra a mineradora. A ATI Paraopeba Nabab aproveitou o momento para apresentar os resultados levantados até o momento acerca do tema saúde da população na Região 3, antes e após o desastre-crime. Durante a conferência, foram discutidas propostas para orientar as políticas públicas e para orientar a reparação integral em saúde. Essas propostas irão compor o relatório da Conferência Estadual de Saúde.
Matéria e fotos: Marcos Oliveira
Vídeo: Daniel Drumond
Entrevistas: Raul Gondim
Edição: Leonardo Dupin