Pessoas atingidas pelo crime da Vale trocam experiências com diferentes atores sobre transição econômica e desenvolvimento pós-rompimento
Passados quatro anos do desastre-crime da Vale em Brumadinho, que afetou as atividades produtivas ao longo de toda Bacia do Paraopeba, as comunidades atingidas ainda seguem sem um plano estratégico de retomada ou mesmo de diversificação econômica. Muitos setores ainda não sabem como poderão retomar suas atividades, além da diminuição progressiva da produção de alimentos frente às contaminações do solo e das águas.
Neste contexto, pensar novos caminhos e estratégias é fundamental, já que estamos passando pelo momento em que estão sendo definidas as regras da governança e gestão do Anexo I.1 do Acordo Judicial de Reparação, que tratam dos projetos de desenvolvimento das comunidades e das políticas de acesso a crédito e microcrédito.
Como forma de fortalecer essa construção, o INSEA, em parceria com o Nacab, organizou no último dia 11 de março no espaço CICLOS, na comunidade de Vista Alegre, em Esmeraldas, um potente encontro de produtores dos municípios de Esmeraldas, Florestal e Fortuna de Minas, bem como cooperativas e grupos produtivos de Belo Horizonte, Sarzedo e outros da região metropolitana da capital.
Cooperação para transição econômica
O objetivo do encontro foi debater a criação de um ecossistema de cooperação e transição econômica, no qual diferentes atores possam construir sinergias comuns e acelerar negócios de impacto, com ampla participação e fortalecimento de ações coletivas. Trata-se de uma experiência inovadora para construir projetos estratégicos. O movimento de transição está hoje presente em mais de 50 países do mundo, buscando novas formas de soluções baseadas em recursos da natureza, do bem viver e de resiliência frente aos impactos climáticos.
Em busca de estimular formas de cooperação neste novo arranjo, o encontro promoveu a troca de experiências e expectativas com diferentes atores, a partir das contribuições de representantes da Universidade Federal de Viçosa (UFV) campus Florestal, da JMáximo consultoria do Sebrae, da Subsecretaria de Segurança Alimentar e Nutricional (SUSAN) da Prefeitura de Belo Horizonte, do mandato da deputada federal Duda Salabert e da Rede Metropolitana de Agroecologia – Associação Horizontes.
Os convidados puderam apresentar temas estratégicos como agroecologia, segurança alimentar, crédito de carbono, produtos ecossistêmicos, mudanças climáticas, as possibilidades do uso da macaúba, entre outros, mostrando o potencial de construir estratégias comuns.
Produção diversificada e em rede
O professor e pesquisador da UFV, Helder Canto, falou sobre o trabalho realizado na universidade com pimentas, a produção de geleias e outros alimentos e do trabalho com a criação de abelhas e produção de mel, que atuam numa cadeia integrada de valor, na qual o ator econômico faz uma parte e as abelhas com a polinização integram com o seu trabalho.
Fortalecer o ecossistema
Após as apresentações, foram debatidas as ideias e as propostas em grupos, além das pactuações e avaliação do encontro.
Que privilégio participar desse encontro. Quanta informação preciosa, quanta sinergia, que astral, quanta oportunidade, quanta sabedoria, enfim, como somos poderosos coletivamente. Como é importante sentir que podemos mudar o cenário, sermos protagonistas de nossas ações e escrever uma nova história para a Bacia do Paraopeba, substituindo a tristeza pela alegria de reconstruirmos o nosso coletivo, de Atingidos para Reconstrutores Coletivos”, avaliou o produtor rural e morador da comunidade de Beira Córrego em Fortuna de Minas, Ronaldo Marcelino.
Na parte final do encontro, os participantes apontaram os caminhos e desafios da cooperação em ecossistema, buscando construir uma agenda comum para consolidação do modelo e fortalecimento dos grupos de transição. O próximo encontro será no dia 15 de abril, na comunidade de Beira Córrego, em Fortuna de Minas. Neste período serão realizadas novas conversas estratégicas com outros atores de desenvolvimento e fomento e gestores públicos.
O encontro foi promovido pelo Insea, Nacab, Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) e a Rede de Atingidos da Região 3 do Paraopeba.
Texto: Marcio Martins e Luciano Marcos
Edição: Raul Gondim