Na semana em que se completam 5 anos do rompimento da barragem da Vale, na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, o curta-metragem Água Rasa, que conta com pessoas atingidas que vivem às margens do Rio Paraopeba, participou da 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes.
A exibição, que teve lotação máxima, terminou sob aplausos e gritos de “Vale assassina” pelo público, formado por mais de 600 pessoas.
Água Rasa é uma coprodução entre a ATI Paraopeba Nacab, Instituto Guaicuy e Tipiti Filmes, e foi escrito e dirigido pelo cineasta Dani Drumond. O filme vem colecionando participações e premiações em diferentes festivais.
Renato Novaes, ator e professor de geografia em escolas públicas, reside em Juatuba e também foi atingido pelo desastre-crime da Vale. O ator, que é irmão do cineasta André Novais (um dos homenageados desta edição do festival), destacou a importância do filme Água Rasa participar de uma das principais mostras de cinema do país.
“Esse crime da Vale é um tipo de catástrofe que a gente não pode esquecer nunca. Os assassinatos que aconteceram em Brumadinho e Mariana não podem jamais serem esquecidos pelo povo brasileiro. Essas duas catástrofes aconteceram em Minas Gerais em um espaço de menos de 4 anos. O plano de eliminação dessas barragens já deveria ter acontecido há muito tempo, mas o que a gente vê ainda hoje são pessoas tendo que sair das suas casas por causa do risco de novos rompimentos”, lembra Novaes.
A 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes teve por tema “As Formas do Tempo”, e contou com a exibição de mais de 140 filmes, além de rodas de conversas, shows e oficinas voltadas para a produção audiovisual. Água Rasa concorre ao prêmio “Júri Popular” com os demais filmes exibidos na Mostra Foco Minas, que ocorre dentro do festival.
O diretor e idealizador do curta-metragem, Dani Drumond, destacou a importância de participar do festival com o filme, justamente na semana em que se completam 5 anos do rompimento da barragem.
“A gente ter a oportunidade de exibir o nosso ponto de vista de um momento tão triste e marcante da nossa história, e poder se conectar com centenas de pessoas neste evento foi muito emocionante para mim e para todos da equipe que estavam na exibição. Nosso filme é tanto um filme de luto pelas pessoas que foram mortas nesse desastre, quanto um filme que busca um olhar para as pessoas que seguem vivendo na calha do Rio Paraopeba e que então sofrendo com a falta de acesso ao rio. O que tentamos é trazer um olhar poético para esse sofrimento, essa dor e para essa resistência de seguir vivendo nesse lugar”, disse o cineasta.
Sobre o filme
Água Rasa navega o rio Paraopeba, contaminado pela lama tóxica de rejeito de mineração devido ao rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, percorrendo do local do rompimento até a sua foz, na Represa de Três Marias. Através da sabedoria de Seu Pedro, Água Rasa descobre, em seu varejão de bambu, o poder de ouvir e se conectar com o rio, com a natureza ao redor e com espíritos ribeirinhos.
Prêmios e Festivais
Água Rasa vem percorrendo e sendo premiado em uma série de festivais nacionais e internacionais, denunciando com sutileza as consequências de um dos maiores crimes socioambientais do país. Ele estreou em festivais no 9º Cine.ema, importante mostra ambiental capixaba, e foi premiado no 4º Festival UrbanoCine, em Natal-RN, com a Melhor Direção de Fotografia. Também recebeu menção honrosa no Hollywood Guerrilla Film Festival e foi semifinalista no Bridge of Peace Film Festival. Foi selecionado também no Festival Curta (C)errado e no 16º Festival de Films Pêcheurs du Monde, que acontece em março de 2024 em Lorient, na França.
Fotos e texto: Marcio Martins