NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Cartografia social revela limites e relações das comunidades da ZAS 

Segundo a Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB), em casos de reassentamento é fundamental que sejam consideradas as relações sociais e familiares, assim como os modos de vidas das famílias atingidas. Por isso, para elaboração do Plano de Reassentamento Coletivo das comunidades situadas em zona de autossalvamento (ZAS) e mancha de inundação da barragem da Anglo American, em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas, a Assessoria Técnica Independente ATI Nacab propôs a realização da cartografia social para verificação e levantamento destes aspectos. Também, para avaliar se o perímetro territorial apresentado pela mineradora como área de estudo para o reassentamento estava adequado à realidade e aos aspectos sociais.  

Assim, entre os dias 6 e 16 de maio, a ATI 39 Nacab realizou oficinas com as quatro comunidades envolvidas no Plano de Reassentamento – Àgua Quente, Passa Sete, São José de Jassém e Beco.

“A cartografia social tem sido muito utilizada por se tratar de uma atividade coletiva que envolve a autodeclaração. Nessa metodologia, são realizadas atividades com mapas, em que as pessoas constroem a partir do seu conhecimento e de sua perspectiva a forma de ocupação da comunidade no território, identificando suas casas, os bens naturais, as estradas, suas relações, rotinas e seus modos de vida”, explica Fernanda Lima, coordenadora territorial da ATI 39 Nacab.  

No momento, a equipe da ATI está sistematizando as informações levantadas nas quatro oficinas, com a produção de mapas e relatórios sobre o estudo.

“Fazer a oficina de cartografia social foi importante para entendermos os vínculos socioculturais, o quanto um depende do outro e nos reconhecer enquanto comunidade. Também para delimitar qual o tamanho da comunidade e quais são suas adjacências. Eu gostei bastante da metodologia, foi dinâmica e bem participativa. Foi até divertida. As pessoas ficaram impressionadas em visualizar as relações.”
Elizete Sena, atingida de Passa Sete
Elizete Sena
atingida de Passa Sete
“O importante desse mapeamento é fazer com que todas as pessoas reconheçam seu lugar e identifique sua identidade. Porque às vezes as pessoas dizem que são de uma comunidade, mas ninguém nem as conhecem, nem nunca ouviu falar. E esse mapeamento, além de deixar as pessoas informadas do seu ponto, do lugar onde mora, ela fica ciente dos perigos que corre. Eu quero agradecer ao Nacab que nos aproxima desse conhecimento.”
Nilza Rodrigues
atingida do Beco

Primeiros resultados 

Na quinta-feira, 23 de maio, em assembleia das comunidades, a ATI apresentou a primeira versão do mapa com os limites territoriais levantados na Cartografia, para conferência e validação. Antes de exibir os primeiros resultados, Fernanda Lima reforçou a importância do estudo:  

“A sentença judicial que determinou o reassentamento da Zona de Autossalvamento (ZAS) fala em comunidades. A gente entende que a comunidade funciona como uma grande rede e que uns dependem dos outros para que funcione, mas a Anglo enviou estudo apenas com base na mancha de inundação e limite de propriedades, o que pode excluir partes consideráveis do território e separar comunidades. Os municípios atualmente não possuem nenhum polígono oficial que delimita as áreas. Então, a participação das comunidades é muito importante no sentido de definir esses limites e apontar onde começam, onde terminam e como elas são afetadas pelas prospecções da Anglo sobre a barragem”.

Pedro Henrique Silva, geógrafo da ATI Nacab, exibiu os mapas e os limites das quatro comunidades. Depois, apresentou um mapa com os limites que a Anglo reconheceu como área de estudo do Plano de Reassentamento, para comparações com o mapa que as comunidades identificaram. As pessoas presentes analisaram, fizeram observações e tiraram dúvidas.  

“A comunidade deliberou a aprovação dos limites de Àgua Quente, São José de Jassém e Beco, e pediu a ampliação dos limites de Passa Sete, ao reconhecer uma propriedade que havia ficado de fora.  Essa adequação será feita e apresentada para a comunidade nas próximas reuniões, e o mapa será encaminhado em versão digital pelos grupos de whatsapp”, disse Pedro Henrique.  

Cartografia social revela limites e relações das comunidades da ZAS

Reportagem: Georgyanne Sena e Brígida Alvim  
Fotos: Georgyanne Sena, Brígida Alvim, Patrícia Castanheira, Rodrigo Teixeira e Marco Borges Netto
Locução: Georgyanne Sena e Rodrigo Teixeira
ATI 39 Nacab