NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Compra direta de alimentos garante alimentação saudável e renda às famílias atingidas  

ATI Paraopeba Nacab já repassou mais de R$ 300 mil a produtores locais na Bacia do Paraopeba, por meio de política de aquisição direta de alimentos  

Para Silvéria Baeça, de Esmeraldas, fornecer alimentos nos encontros ajudou a suprir a defasagem do comércio local após o rompimento da barragem. Foto: Marcio Martins

Seguindo o princípio de que uma boa alimentação – social e ambientalmente justa – é um ato político para melhorar a sociedade, a ATI Paraopeba Nacab, desde sua implementação, adotou em suas reuniões e encontros uma ação que privilegia a compra direta de alimentos de famílias agricultoras atingidas. Entre julho de 2021 e junho de 2024, a ATI adquiriu aproximadamente R$ 315 mil em alimentos vindos dos quintais e cozinhas dessas famílias. 

A rica variedade de produtos inclui arroz, feijão, carnes, frutas, verduras e quitandas, dentre outros. Com isso, a ATI tem oferecido em seus espaços de atuação refeições saudáveis e saborosas, produzidas localmente pelas próprias pessoas atingidas. 

"A compra direta dos alimentos das famílias atingidas para os eventos do Nacab tem uma importância que está relacionada a diversos fatores. O primeiro é pela valorização do alimento que é feito pela comunidade, fortalecendo a segurança e soberania alimentar. Depois, por trazer um alimento que é da vivência das pessoas atingidas e, por último, por mostrar a riqueza que é produzida por elas."
Luiza Monteiro
coordenadora de campo da ATI Paraopeba Nacab

 

Segundo Alexandre Chumbinho, gerente jurídico do Nacab, “a aquisição direta de alimentos não pode ser confundida com a reparação dos danos do desastre-crime, que tem suas vias e recursos próprios, como as ações e acordos individuais de indenização.”

A iniciativa do Nacab dá cumprimento a seu estatuto, que prevê o fomento da economia local e da produção agroecológica. Além disso, essa prática ajuda a preservar a cultura dos preparos culinários de cada comunidade assessorada. “Ora, se temos atividades a realizar no território, por que adquirir os insumos e alimentos do CEASA?” continua Chumbinho. 

Atualmente, 27 pessoas atingidas, entre microempreendedores, vendedores de insumos e famílias, que atuam em pequenos grupos na fabricação de biscoitos, queijos, pães, quentinhas ou outros produtos caseiros, fornecem os alimentos servidos na Região 3 da bacia durante os encontros promovidos pela ATI. 

No munícipio de Esmeraldas são cinco grupos, de diferentes comunidades, que fornecem essa alimentação. Um deles é o grupo local de quitandeiras, do qual faz parte a moradora da comunidade de Vista Alegre, Silvéria Baeça. Uma das primeiras fornecedoras de alimentos para os encontros promovidos pelo Nacab, ela ressalta a importância da prática na retomada econômica após o rompimento da barragem: “Fornecer o alimento para estes encontros fez toda a diferença. Supriu, em partes, a defasagem do nosso comércio”, afirma.  

“Sempre me preocupo com a boa alimentação do outro. Muitas das coisas que forneço eu mesma cultivo, como verduras, alguns legumes, feijão, mandioca, da qual é feito o polvilho para confecção de biscoitos, bolos e pães de queijo, assim também como leite, ovos, frango, carne de porco caipira e banha. Os outros ingredientes que eu não consigo produzir, faço parceria com meus vizinhos e atingidos de outras regiões, como requeijão, polpas de frutas para sucos, entre outros”
Silvéria Baeça
moradora de Vista Alegre (Esmeraldas)

 

Se por um lado a iniciativa pode ser considerada uma inovação, ao sair da lógica de empresas fornecedoras de infraestrutura e logística das atividades, o cuidado com a qualidade dessas compras tem merecido muita atenção do Nacab. Toda compra é auditada interna e externamente, garantindo que não ocorra nada fora dos parâmetros normativos vigentes. Na verdade, somos até mais rígidos nessa modalidade, dialogando com as pessoas atingidas que fornecem alimento para fortalecer essa política, uma vez que queremos torná-la exemplo em todas suas dimensões.conclui Chumbinho.  

Mesa de alimentos em oficina de mulheres na comunidade de Soledade (Pequi), abril de 2023. Foto: Karina Marçal

 No município de Pequi, o fornecimento dos alimentos fica também por conta de um grupo local de quitandeiras: “É com um prazer muito grande que a gente une as quitandeiras da comunidade de Campos para servir o café para o Nacab. Para fazer uma alimentação saudável, de qualidade, sem agrotóxicos, tudo feito da produção mesmo. Os ovos do galinheiro do quintal, o polvilho e a farinha feito pelas quitandeiras e os ingredientes que a gente compra das comunidades atingidas também, como o queijo, o requeijão, as polpas de frutas. Esse café compartilhado que a gente serve representa a união entre as comunidades”, lembra a cozinheira Patrícia Braga. 

Texto: Leonardo Dupin, Karina Marçal e Marcio Martins
Edição: Fabiano Azevedo