NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Pessoas atingidas conhecem impactos da mineração na Zona da Mata 

Visita foi a oportunidade para as pessoas trocarem experiências e fortalecerem o engajamento na luta contra a mineração predatória 

Mineração – progresso para quem? Com o objetivo de pensar e dialogar sobre essa pergunta, pessoas atingidas da Região 3 da bacia do Paraopeba visitaram, no dia 13 de setembro, a comunidade São Pedro, em Teixeiras (MG). Lá, elas conversaram com uma família que foi atingida pela extração de magnetita na região, e que causa impactos devastadores à qualidade de vida dos moradores e do meio ambiente.

O encontro foi uma oportunidade para as pessoas atingidas refletirem ainda mais sobre os danos da mineração na economia e na sociedade. Foi, também, um momento de troca de experiências e de empatia, compartilhando histórias e anseios de reparação, fortalecendo a união e o desejo de lutar e denunciar os crimes e os abusos da mineração.

Roda de conversa com pessoas atingidas pela mineração da Região 3 da bacia do Rio Paraopeba e da comunidade São Pedro, em Teixeiras

A extração de magnetita acontece desde 2019 na região, através de concessão dada à empresa ZMM (Zona da Mata Mineração). As comunidades do entorno, juntamente com o MAM (Movimento pela Soberania Popular na Mineração), tentam frear a ação da mineradora, denunciando os danos e os impactos negativos na região. Em julho de 2023, duas das quatro áreas de exploração foram embargadas pela Supram-ZM (Superintendência Regional de Meio Ambiente da Zona da Mata), em razão de ao menos três crimes ambientais, como o desmatamento ilegal de mata nativa, a exploração de área sem licenciamento ambiental e o depósito de rejeito sem licenciamento. 

Lideranças da comunidade São Pedro e o MAM foram os autores das denúncias que levaram o Ministério Público a demandar a atenção da Supram para o caso. A prefeitura de Teixeiras alega ter recebido, em junho deste ano, os autos de fiscalização e de infração informando o embargo.

Pilha de rejeitos gerados pela mineração de magnetita, realizada pela Zona da Mata Mineração, na comunidade São Pedro, em Teixeiras, evidencia o impacto negativo da atividade

Entre os principais danos sofridos pela família e pelos demais moradores, estão a perda das fontes de água, da privacidade, das condições ideais para a prática da agricultura familiar, do lazer, da segurança, do direito de ir e vir, do sossego, entre outros prejuízos pessoais e para a renda.

“A luta não é fácil e os impactos não são apenas financeiros, há também o sofrimento psicológico, que é uma tortura. Não podemos pagar um preço tão alto para gerar lucro a um grupo pequeno de empresários e para que a evolução tecnológica aconteça. Mas acredito que se houver união e a comunidade não desarticular no início, é muito pouco provável que a mineração atue”
Marlene Fialho
Moradora da comunidade São Pedro, em Teixeiras (MG)
“Isso é muito impactante e as pessoas precisam saber desses impactos da mineração. Precisamos colocar a boca no trombone e, a partir de hoje, a luta contra a mineração só aumenta, ganhei força, pois a luta da bacia do Paraopeba tem sido pesada e desgastante. A gente vê as coisas se perdendo e quando vemos outras pessoas na mesma luta, sinto que não estamos sozinhos e que precisamos ouvir uns aos outros”
Ana Alice Tanuri
Comunidade Padre João, em Esmeraldas
“Dá para ver que viver nessa localidade é muito importante, uma herança que mãe e pai deixaram. É um desafio muito grande levantar e anoitecer, todo dia, olhando para o rejeito ao redor da casa. Isso é muito triste, mas Deus que abençoe, pois vocês são fortes, não desistiram e não vão desistir”
Dalia Moreira
Comunidade de Casa Nova, em Fortuna de Minas

Troca de Saberes

A visita fez parte da atividade de intercâmbio proposta pela ATI Paraopeba Nacab, que incluiu também a participação das pessoas atingidas na 15ª Troca de Saberes, na UFV (Universidade Federal de Viçosa). Com a temática ‘Revolução Agroecológica para superar a crise climática’, o evento promoveu, entre os dias 14 e 16 de setembro, práticas e experiências em um espaço de conexão e aprendizado.

Na Troca, as pessoas atingidas também participaram do espaço: “Sinais da Terra: Transformações Ambientais nas Áreas Atingidas pela Mineração”, conduzido pelo Nacab, com o objetivo de promover uma roda de conversa sobre como as pessoas podem ajudar a construir e monitorar indicadores sobre o atingimento, para, assim, contribuírem com a reparação. 

Texto e fotos: Marcos Oliveira
Edição: Fabiano Azevedo