NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Comunidades apontam ausência de impactos no estudo da Condicionante 47

ATI sugere ampliação e transparência dos programas criados para mitigar os impactos

A ATI 39 Nacab iniciou, em Itapanhoacanga (19/09), São José da Ilha (28/10), Taporôco (06/11) e São José do Arrudas (18/11), a apresentação dos principais pontos do relatório final, entregue pela Amplo Engenharia, referente ao levantamento dos impactos ocasionados pelas atividades minerárias da Anglo American e de possíveis outras comunidades atingidas. A próxima apresentação ocorrerá em Córregos, no dia 26 de novembro. 

Através desse estudo, a mineradora buscou atender a Condicionante 47 do Licenciamento Ambiental da Fase III do projeto Minas-Rio (ampliação da cava da mina do Sapo). O estudo identificou 46 categorias de impactos. Em Itapanhoacanga, foram identificadas 7 dessas categorias, em São José da Ilha 18, em Taporôco 5, e em São José do Arrudas 7. Das 46 categorias, 21 foram mencionadas em pelo menos 10 das 13 comunidades focais assistidas pelo Nacab. 

Apresentação em São José da Ilha ocorreu no dia 28 de outubro
“Em relação à Condicionante 47, criou-se uma expectativa nas comunidades que houvesse uma devolutiva da Amplo, o que deixou as comunidades um pouco frustradas. No Relatório, o agrupamento de impactos em categorias dificultou a compreensão do que, realmente, a empresa passou para Anglo American das oficinas que ocorreram em campo. Uma apresentação in loco da empresa seria uma forma mais eficiente e daria mais transparência ao processo”
Guilherme Bongiovani
coordenador técnico da ATI 39 Nacab

Tanto em São José da Ilha quanto em Taporôco, durante as apresentações realizadas pela ATI, os moradores disseram que muitos dos impactos apontados por eles nas oficinas realizadas pela Amplo foram suprimidos na categoria “Mudança nos modos de vida, hábitos e costumes”.  Em geral, os impactos suprimidos têm relação direta com o empreendimento e permanecem desde que a mineração chegou. São eles, a insegurança na comunidade (circulação de pessoas diferentes, aumento de furtos e uso de drogas), conflitos com o empreendedor, conflitos comunitários e invasão de terceiros nas propriedades. Outro impacto invisibilizado nas comunidades que estão próximas à barragem de rejeitos da Anglo American foi o incômodo com o ruído, tanto do empreendimento quanto do tráfego. 

Apresentação em Taporôco- dia 06 de novembro
“Na época que a Amplo fez o trabalho da Condicionante 47, informamos os problemas que nos atingia, direta e indiretamente, pelo empreendimento da Anglo American, e ficamos aguardando o relatório final. Falamos da poeira, do fedor, dos problemas das estradas vicinais e da MG 10, das expectativas de vagas de empregos e dos cursos de capacitação. Ficamos aguardando o retorno, mas quem nos apresentou o documento final foi a ATI. A poeira trouxe problemas respiratórios e a água provocou cólicas intestinais, em sua maioria, em crianças. A Rodovia MG 10 está sempre esburacada porque é utilizada para trânsito de caminhões pesados da Anglo, onde tem ocorrido graves acidentes. Um total descaso também das autoridades com a segurança na rodovia estadual”
Pastor Antônio Lúcio
morador de Itapanhoacanga
“A apresentação do estudo sobre os impactos feita pela ATI está sendo de grande importância para a população. A ATI nos trouxe informações precisas sobre os impactos na água que sofremos aqui na Ilha. Temos a esperança de que esse problema será solucionado”
Edith Neide da Silva
moradora de São José da Ilha
"Confiamos no trabalho da ATI, mas os esforços da comunidade e da ATI em busca dos direitos das famílias, muitas vezes, não são atendidos”
Veridiany Fernanda Silva de Carvalho
moradora da comunidade Taporôco
“O levantamento realizado pela empresa Amplo Engenharia favoreceu somente à mineradora, pois alguns impactos falados em reuniões pela comunidade eles não levaram em consideração, foram reduzidos”
José Mário Reis
produtor rural de São José do Arrudas.

No relatório final da Condicionante 47, a Amplo apresenta sugestões de ações para Anglo American como forma de mitigar tais impactos nas comunidades. A ATI concorda, parcialmente, com as recomendações de ajustes e/ou fortalecimento de ações dentro dos programas já existentes, mas sugere medidas adicionais para várias categorias de impactos. 

Moradores de Itapanhoacanga participaram da apresentação no dia 19 de setembro

“É necessário que haja atualização desses impactos nos programas criados com as licenças ambientais anteriores da Anglo American, porque a magnitude agora é outra, surgiram novos impactos, eles foram majorados e teve aumento também da área de abrangência. Então, é necessário que estes impactos sejam levados em consideração dentro dos programas. Outro ponto importante é a visibilidade desses programas. Hoje eles estão incluídos dentro das condicionantes da Licença Ambiental da Anglo e acabam tendo pouca visibilidade nas comunidades. Então, é interessante a criação de mecanismos para que os programas sejam divulgados de uma forma mais ampla e transparente, para que as comunidades entendam as medidas mitigadoras que a mineradora está tomando em relação aos impactos que vem ocorrendo”, pontou Guilherme.  

Além do levantamento dos impactos, o estudo da Amplo cita 13 localidades, próximas às comunidades focais, que também foram e estão sendo impactadas pela implantação e operação do Minas-Rio. A maioria dessas localidades já são atendidas pela ATI. Em Conceição do Mato Dentro são: Buritis, Cachoeira, Córrego dos Morais, Córrego Palmital, Fazenda Piraquara (reassentamento), Jardim Bougainville (reassentamento), e Quatis; em Alvorada de Minas: Gramichá, Córrego do Saraiva, Serra de São José, Teodoro e Goiabeiras; no Serro: Mato Grosso. 

Em breve, as comunidades encaminharão ofício conjunto à Fundação Israel Pinheiro (FIP), gerenciadora do processo, e para o Ministério Público com o resultado da devolutiva do relatório final elaborado pela Amplo Engenharia. 

Reportagem: Patrícia Castanheira 
Fotos: Patrícia Castanheira e Silmara Figueiras 
Locução: Rodrigo Teixeira e Patrícia Castanheira 
Equipe de Comunicação da ATI 39 Nacab