NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Moradores de Córregos discutem pesquisa de impactos e possíveis soluções 

No final de novembro, moradores de Córregos se reuniram com a ATI 39 Nacab, para debater sobre os possíveis impactos sociais, ambientais e estruturais causados ou agravados pelo projeto Minas-Rio na comunidade. A conversa ocorreu a partir dos resultados dos levantamentos de informações realizadas pela empresa Amplo Engenharia, contratada da Anglo American, em cumprimento à Condicionante 47 do licenciamento ambiental da mineradora. 

A equipe do Nacab mostrou os danos apresentados no relatório final do estudo, que registrou as queixas e percepções dos moradores. A ATI também apresentou e analisou as medidas mitigadoras apontadas pela Amplo. Ao verem os resultados, os moradores reconheceram os danos, relataram que muitos deles persistem na comunidade e fizeram indicações de melhorias para mitigarem os impactos levantados. 

Impactos recorrentes 

Dentre os resultados, foram identificados impactos como o aparecimento de trincas e rachaduras nas residências de Córregos, que podem ter sido causados por explosões na mina e circulação de veículos pesados nas ruas do distrito. Segundo os moradores, esse problema é sentido pela comunidade desde o início das atividades da Anglo American, em 2010, e persiste mesmo após reparos já realizados pela mineradora.  

Como sugestão de mitigação, a Amplo pontua que, por se tratar de um impacto não previsto nos estudos ambientais para o Licenciamento (Eia-Rima), o dano poderia ser associado ao Programa de Resolução de Conflitos da mineradora. A ATI 39 Nacab considera importante que o tema também seja tratado por outros programas das condicionantes, como o Programa de Proteção e Monitoramento do Patrimônio Cultural. 

Outro problema diz respeito aos recursos hídricos na comunidade. De acordo com o resultado da pesquisa, os moradores relaram que houve uma redução gradual nos cursos d’água, cisternas e no volume de uma forma geral. Além disso, pontuaram que as medidas adotadas atualmente não garantem o abastecimento contínuo de todas as casas, sendo muitas vezes necessário recorrer ao uso do caminhão-pipa.  

Como sugestão de mitigação, a Amplo recomendou à Anglo American: reforçar ações para repor a quantidade de água; perfurar poços artesianos; e fornecer caixas d’água de maior capacidade. Para a ATI 39 Nacab, a perfuração de poços é importante, porém é essencial a instalação de painéis de energia solar para alimentação dos poços e que seja disponibilizado um apoio técnico para instalação e manutenção dos sistemas. Além disso, a ATI também destacou ser importante o diálogo didático e esclarecido com a comunidade das informações repassadas sobre a qualidade, volume e vazão da água em Córregos.

Os resultados da pesquisa da Amplo apontam ainda outros impactos que possuem relação com as atividades da Anglo American na região. A comunidade indicou mudança de hábitos e costumes no dia a dia, como aumento da circulação de pessoas de fora; falta de capacitação para o mercado de trabalho, especialmente para mulheres; interferências no Patrimônio Cultural (material e imaterial) e Natural, como deterioração das vias, mudança na paisagem e perda de identidade cultural local. 

Adriana Ferreira relatou que a nascente já passou por um período seca e, com isso, prejudicou a lagoa, a criação de animais e o abastecimento em casa.

“O chão, você limpa de manhã e à tarde, já tem que limpar de novo. Tem que passar pano na hora de dormir também! Outro dia, era mais ou menos umas seis e meia, já tinha um barulho estranho... parecia barulho de alguma coisa batendo, como se fosse tambor... De madrugada eu também ouvi. Acordei meu marido e perguntei o que era e ele me respondeu que era lá na mineradora. Falei que antes, não tinha esse barulho todo não. Parece que está até mais perto!”
Adriana de Fátima Ferreira
Moradora de Ribeirão, zona rural de Córregos

Além de discutirem as propostas de soluções apontadas pela Amplo e pela ATI 39 Nacab, moradores de Córregos apresentaram sugestões para ajudar a enfrentar os desafios. Entre elas:  

Revisão dos planos e programas da Anglo American, para ampliação e adequação das iniciativas de mitigação e compensação ambiental para a comunidade;  

  • Fortalecimento do diálogo entre a comunidade, a mineradora e o poder público, sobre as possíveis ações; 
  • E a criação de indicadores para monitorar, avaliar e orientar ações relacionadas a questões sociais e ambientais que afetam a comunidade. 

Encaminhamento 

Além de Córregos, a ATI fez a devolutiva do estudo feito pela Amplo Engenharia em outras comunidades assessoradas. Um relatório contendo as percepções das pessoas atingidas sobre os impactos apresentados e as medidas mitigadoras será encaminhado pela ATI à Fundação Israel Pinheiro (FIP), gerenciadora do processo, e para o Ministério Público.  A expectativa é de que esse relatório, feito pela ATI com a contribuição das comunidades atingidas, poderá servir de subsídio para a execução da Condicionante 50, que prevê valoração dos danos materiais e imateriais. 

Reportagem e fotos: Silmara Filgueiras
Áudio: Silmara Filgueiras 
Edição: Brígida Alvim 
Comunicação ATI 39 Nacab