NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Luta por justiça ecoa em Brumadinho, seis anos após o rompimento

Romaria reúne pessoas atingidas da Bacia do Paraopeba e Represa de Três Marias

No último sábado, 25 de janeiro, centenas de pessoas acompanharam a VI Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho. O ato em memória às pessoas atingidas pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, marca os seis anos do desastre-crime provocado pela Vale e reuniu pessoas atingidas de toda a bacia do rio Paraopeba e lago de Três Marias.

Após a tradicional missa organizada pela Arquidiocese de BH, por meio de sua Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (Renser), as pessoas saíram em passeata pelas ruas de Brumadinho com cantos, faixas e cartazes clamando por justiça e reparação integral.

Mantendo a tradição dos encontros anteriores, após a caminhada as pessoas se reuniram próximo ao trevo na entrada da cidade, onde são colocadas as 272 cruzes com os nomes das vítimas fatais, chamadas por todos como joias perdidas.

Às 12h28, horário do rompimento em 2019, foram lançados 2.192 balões, representando os dias de luta por justiça desde o desastre-crime. Biodegradáveis, estes balões carregavam sementes de girassol. Após um minuto de silêncio, foi realizada uma chamada com os nomes das joias, para que não sejam esquecidas.

A Rede de Atingidos e Atingidas da Região 3 participou da Romaria com seus representantes, que destacaram a necessidade da unificação das pautas das pessoas atingidas de toda a bacia.

“Viemos aqui nos solidarizar com as famílias que perderam seus entes queridos. E viemos também participar de um dia de luta por uma reparação da Bacia do Paraopeba que ainda não veio”
Juliano Barbosa
Morador de Córrego de Areia, em Fortuna de Minas
Memória viva para que o crime não se repita

A tradicional Romaria em Brumadinho tem como um dos objetivos construir uma memória do maior acidente de trabalho e um dos maiores crimes ambientais do Brasil. A manutenção dessa memória, construída pelos próprios atingidos e atingidas, se faz necessária para que desastres como esse sejam evitados.

“A gente se reúne todos os anos desde o rompimento para que nunca mais seja esquecido o que aconteceu. Um crime que marcou a vida de todo mundo, que matou um rio, e percebo que nossa imprensa já está dando como esquecido. Não vimos as empresas de comunicação como nos primeiros anos. É como se a reparação já tivesse acontecido, o que não é verdade. A gente continua vivendo às margens do Paraopeba com os nossos danos, medos e isso nos deixa indignados”
Patrícia Passarela
Moradora da comunidade de Taquaras, em Esmeraldas
Mobilização cobra reparação integral para todo o estado

No dia 24 de janeiro, foi realizado um ato unificado com pessoas atingidas por barragens da Bacia do Paraopeba, do Rio Doce e de Antônio Pereira, para cobrar mais agilidade e compromisso com a reparação justa e integral relacionada a crimes da mineração.

O dia começou com um debate sobre o atual cenário das lutas e logo após houve uma caminhada da Assembleia Legislativa de Minas Gerais até o Ministério Público de Minas Gerais, onde aconteceu uma reunião de representantes das pessoas atingidas e do Comitê de Compromitentes do Acordo de Reparação.

Ao mesmo tempo, outro grupo de pessoas atingidas se reuniu com o juiz Dr. Murilo Silvio de Abreu, no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, para conversar sobre o andamento da reparação e a necessidade de repactuar o Acordo, levando em consideração as diretrizes da Política Estadual dos Atingidos por Barragens – Peabe e da Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB).

Texto e fotos: Karina Marçal e Marcio Martins 
Edição: Marcos Oliveira