Estudo verifica a presença de metais nos peixes da região 3 e apontará se eles estão ou não em condições para o consumo
A Assessoria Técnica Independente (ATI) Paraopeba Nacab está realizando um dos estudos mais esperados pelas pessoas e comunidades que foram atingidas pelo desastre-crime da Vale. Foram coletados peixes para a realização de análises que irão informar sobre o nível de metais presentes e se estão em condições para o consumo humano ou não.
A atividade de coleta e análise de peixes está sendo realizada pela empresa especializada Arvut Sinergia e acompanhada pelos analistas do Nacab. A coleta aconteceu em três pontos, sendo dois no rio Paraopeba e o terceiro no rio Verde, afluente do Paraopeba. O primeiro local fica na divisa entre os municípios de Esmeraldas e São José da Varginha, próximo da comunidade de São José. Já o segundo ponto se localiza se na zona rural do município de Paraopeba.
De acordo com a Especialista Socioambiental do Nacab, Adriana Carvalho, desde o começo dos trabalhos da ATI, em 2019, saber a qualidade dos peixes, após o rompimento da barragem da Vale, é uma demanda das comunidades. “A pergunta de todos é: como que está a saúde dos peixes? E a expectativa é que ao avaliar a presença e a concentração de metais pesados, que são relacionados ao que a gente normalmente encontra nos rejeitos, o Nacab consiga dar respostas que vão corroborar ou não com a recomendação de não se pescar no rio Paraopeba”, resumiu.
A pesca foi realizada com redes e tarrafas e buscou alcançar o maior número da diversidade de espécies que vivem no Paraopeba. O trabalho contou também com o apoio da Artífice Soluções Biológica que realizou a coleta e a dissecagem (cortar e separar as partes). Para facilitar o processo da captura, a pesca foi realizada em companhia do pescador Amarildo Rodrigues, que é pescador do Paraopeba desde criança e conhece bem as curvas do rio.
Segundo a bióloga e coordenadora da atividade pela empresa Arvut Sinergia, Fernanda Sartori, será analisado a presença de 11 metais específicos e o nível de cada um nas espécies coletadas. “Esse trabalho é importante para ver a situação dos peixes do Paraopeba. Se há a presença dos metais e se estão acima do limite aceitável. E assim ver se as pessoas podem voltar a pescar e consumir esses peixes. Isso é muito importante para a saúde humana e para o dia a dia das pessoas que vivem nas comunidades às margens do Paraopeba”, ressaltou Fernanda.
A bióloga também explicou que são coletadas amostras do fígado dos peixes, órgão que acumula os possíveis metais ingeridos pelo animal, e do músculo, que é a parte consumida pelas pessoas. Essas amostras serão levadas para o laboratório onde será verificado se há a contaminação pelos metais que podem estar presentes na água do Paraopeba.
Ainda segundo Fernanda, além da análise da situação atual dos peixes coletados, os resultados também serão comparados com outros estudos realizadas antes do rompimento da barragem e com artigos científicos sobre a fauna aquática do Paraopeba. Assim será possível saber se a presença de metais se relaciona ao rompimento da barragem ou não. A coleta no rio Verde, um dos afluentes do Paraopeba, também possibilitará uma maior comparação e ampliação dessas análises, já que são águas que não tiveram contato com o rejeito da barragem.
A pesca e as comunidades ribeirinhas
Marcos Aurélio Emiliano, que trabalha com os pais no Bar e Restaurante do Marquinhos, na comunidade de São José, ressalta a importância da informação nesse processo de busca pela reparação. “O Nacab vem nos dando um norte. Trazendo informações e nos tranquilizando. Sempre que a gente tem alguma dúvida os analistas nos dão a reposta, ou, quando não sabem responder naquele momento, vão se informar e nos repassam”, disse.
A paralisação da prática da pesca afetou profundamente o cotidiano das comunidades que viviam culturalmente e economicamente da atividade. Após o rompimento da barragem, o sentimento de perda está presente na fala de várias pessoas atingidas que sentem saudade da vida antes do desastre-crime.
Marquinhos, como é chamado na comunidade, lembra como mudou a sua vida e a rotina do estabelecimento da família. “É como se a gente tivesse perdido um pedaço de casa. De manhã, bem cedinho, a gente já servia café para os pescadores na maior empolgação. Todo mundo com uma energia boa, que acabava transmitindo pra gente. Era muito gratificante”, destaca o comerciante ao lembrar do turismo da pesca que movimentava o lugar.
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Para saber mais sobre como o desastre-crime da Vale afetou a vida dos pescadores e outros trabalhadores da cadeia produtiva da pesca na região 3, acesse o boletim Mobilização feito pelo Nacab.
Texto, fotos e narração: Marcio Martins e Marcos Oliveira