O que se tornou a vida de trabalhadores e trabalhadoras na bacia do Paraopeba após o rompimento da barragem da Vale
Em torno do ciclo das águas do Rio Paraopeba se organizou a vida cultural e econômica de centenas de famílias e comunidades. Por ali se formou gerações de trabalhadores com suas atividades produtivas, de lazer, religiosidade. Um lugar para o refúgio e tranquilidade. Desde o dia 25 de janeiro de 2019, esta realidade mudou e trouxe um cenário novo de incertezas, desesperança e dor. Se o trabalho dignifica o homem e a mulher, milhares de pessoas viram suas atividades econômicas serem arrastadas junto com a lama que desceu do complexo de barragens de Córrego do Feijão, em Brumadinho, de propriedade da mineradora Vale.
No dia 1º de maio, em que se celebra um dia de luta dos trabalhadores e trabalhadoras do mundo, as pessoas atingidas de 26 municípios em torno do Paraopeba não têm motivos para comemorar. São milhares de pescadores profissionais ou amadores que ficaram proibidos de buscar o seu sustento com a pesca no rio. Os pequenos, médios e grandes produtores rurais, pecuaristas, viram suas atividades paralisadas pela contaminação do solo e das águas, acumulando prejuízos e tendo que dispensar trabalhadores.
Com a morte do Rio, pequenos negócios como açougues, armazéns e mercearias, pousadas, sítios e pensões viram seus clientes desaparecem. Com isso, nas regiões afetadas, se varreu todos os serviços temporários ou permanentes de mulheres, jovens, trabalhadores rurais e prestadores de serviços diversos, como faxineiras, diaristas, quitandeiras, extrativistas, motoristas, auxiliares de serviços gerais, pedreiros e tantas outras ocupações que tinham como base as atividades em torno do lazer, da produção e da pesca no Paraopeba. Somado a este cenário de desesperança, muitas famílias agravaram sua segurança alimentar e nem se quer conseguiram o auxílio emergencial da Vale para cobrir os custos mínimos de suas vidas.
Recuperar o futuro
Passado mais de dois anos deste desastre ambiental, os trabalhadores e trabalhadoras atingidos pela mineração permanecem sem saber os caminhos para retomada de suas atividades econômicas. Buscam na organização local, na cooperação familiar e nos insistentes apelos à Vale para o cumprimento de suas obrigações para com uma reparação justa dos danos. Buscam, neste período, formas de reaver seus postos de trabalho, fazer a quitação dos endividamentos e a reconstrução dos seus negócios.
O Nacab, como Assessoria Técnica Independente (ATI) da região 3, vem realizando diversos estudos sobre esta realidade dos trabalhadores; identificando as atividades econômicas existentes antes e no contexto atual; e construindo com as pessoas e comunidades caminhos que possam assegurar a estes trabalhadores a geração de novos postos de trabalho e renda, e a retomada do desenvolvimento local. Este trabalho perpassa estratégias de novos modelos econômicos que possam dinamizar as atividades produtivas e assegurar um futuro para estes trabalhadores.
São grandes os desafios para que o Rio Paraopeba possa continuar vivo, pois dele depende milhares de trabalhadores e trabalhadoras.
Texto: Luciano Marcos da Silva, membro da Coordenação Geral e Gerente de Desenvolvimento Territorial e Agroecologia da ATI R3 Nacab
Ilustrações: Fabiano Azevedo