NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

A luta contra mineradoras na Conferência do Clima (COP26)

De 31 de outubro a 12 de novembro, o mundo volta os olhares para a cidade de Glasgow, na Escócia, Reino Unido, onde acontecerá a 26ª Cúpula Climática da ONU, também conhecida como COP26. O evento é voltado para debater políticas intergovernamentais para o enfrentamento das mudanças climáticas, que coloca em risco a vida em nosso planeta.  

Nos últimos anos, a comunidade científica tem alertado os líderes mundiais e a sociedade sobre o aumento da média da temperatura global, que já atingiu 1.09°C acima dos níveis pré-industriais. Apesar dos apelos das organizações sociais e ambientais, as medidas adotadas até o momento são insuficientes para frear os impactos do clima. Trata-se da última janela de oportunidades para criar medidas eficazes para promover um novo modelo econômico sustentável, que preserva a casa comum e promove ações para reverter a ação predatória e selvagem do capitalismo global em nome do lucro de poucos.  

Os impactos das mudanças climáticas já são sentidos em todo o mundo e afetam sobretudo os mais pobres. Desastres naturais nunca vivenciados, falta de chuvas e aumento de tempestades, desertificação, poluição e elevação do nível do mar, extinção das espécies e da biodiversidade, entre outras consequências, poderão comprometer o futuro das novas gerações. 

Justiça climática

 

Foto: Isac Nóbrega/PR






No contexto internacional dos debates da COP26, a luta dos atingidos e atingidas por barragens contra o modelo predatório da mineração ganha relevância e se apresenta como instrumento de convergências para constituição de políticas que possam controlar ou impedir a expansão das mineradoras no mundo. Estas ações são colocadas dentro do contexto de “justiça climática”, que vê as mudanças climáticas como uma questão complexa de justiça social e não apenas como um problema ambiental. Por um lado, elas são voltadas para proteger a vida das pessoas e de suas comunidades; a biodiversidade e o patrimônio natural; a efetivação dos direitos. E, por outro lado, para promover a construção de medidas jurídicas de não repetição de crimes como os ocorridos em Mariana e Brumadinho.  

Este debate precisa ganhar eco no trabalho e nas reflexões de base, para que as comunidades criem medidas locais de autoproteção e consciência coletiva, buscando na organização popular incidir em todos os níveis dos espaços de decisão. Construir articulações nacionais e internacionais, intercâmbios com troca de experiências com os atingidos e atingidas no mundo para lutas comuns, pode sinalizar novos passos para o fortalecimento desta luta. 

No contexto pós-rompimento e de busca por reparação integral na bacia do Paraopeba é necessário que as comunidades atingidas tenham estratégias efetivas para exercer o controle social e construir um outro modelo de desenvolvimento integrado e sustentável. Nesse sentido, é importante exigir que as ações e as políticas públicas, assim como os investimentos do acordo judicial estejam em sintonia com as medidas necessárias para mitigação dos efeitos climáticos.  

É uma rica oportunidade de construir novas bases para retomada dos modos de vida e produção, tendo o meio ambiente e o bem viver das pessoas como o centro da reconstrução econômica e transição para outro caminho virtuoso, ecológico, a partir de ecossistemas cooperativos e integrados.  Uma importante contribuição para o cuidado com a casa comum e com as medidas necessárias que devem nascer dos apelos que chegarão a COP26 para preservar o nosso lar rumo a um outro mundo possível. Se cada um fizer sua parte, poderemos vislumbrar um futuro novo e possível. 

Artigo: Luciano Marcos Silva
Gerência de Desenvolvimento Territorial e Agroecologia
Edição: Brígida Alvim
Assessoria Técnica Independente (ATI) Paraopeba NACAB