No sábado, 27 de agosto, a ATI 39 Nacab realizou atividade de intercâmbio entre os moradores das comunidades Água Quente, Sapo, Passa Sete, Beco, São José do Jassém e os reassentados de Piraquara, Simão Lavrinhas e Bounganville. A ação teve como objetivo a troca de experiências sobre a realidade vivenciada pelos reassentados e esclarecimento de dúvidas por parte dos atingidos que pretendem fazer a negociação com a mineradora.
O escritório da ATI no Sapo foi o ponto de encontro, de lá todos seguiram para o reassentamento Piraquara que fica localizado no município de Conceição do Mato Dentro. No percurso a técnica da ATI e assistente social Andreia Xavier explicou ao grupo os objetivos da atividade: “nossa proposta é mostrar como os reassentados estão vivendo, como são as casas e as divisões dos terrenos, como é feita a assistência técnica, quais as condições de negociação e principalmente esclarecer as dúvidas que vocês têm sobre a vida no reassentamento”.
Ao chegar no reassentamento Piraquara o grupo foi acolhido pelos reassentados, foi mostrada uma casa de reassentada para que todos tivessem noção do espaço e material da construção. Após a roda de apresentação de todos os presentes, foram expostos relatos sobre o cotidiano no reassentamento.
Ludmila Oliveira, reassentada em Piraquara, declarou que “morar aqui é um desafio constante, atualmente não temos o documento da propriedade, a assistência técnica só dura três anos e a água é fornecida por poço artesiano que tem a bomba ligada apenas às 16 horas, o que dificulta muito o trabalho, tanto no campo quanto nas tarefas domésticas”.
Entre as principais questões que foram apontadas pelos reassentados estão: o fornecimento de água, a ausência de transporte público e serviços de saúde, a manutenção da assistência técnica além dos três anos propostos, a construção de espaço coletivo, a implementação de placas solares e o plano específico de reestruturação produtiva para geração de renda.
José Lúcio, reassentado em Piraquara destacou a saudade que sente da sua comunidade de origem “eu morava em Água Quente que para mim é o melhor lugar do mundo, plantava, colhia, fazia três quilos de queijo por dia, aqui só faço meio quilo, encareceu muito a produção, minhas criações precisam de água”.
Do reassentamento Piraquara o grupo foi para o reassentamento Simão Lavrinhas, localizado no município de Congonhas do Norte que fica a uma distância de 35 quilômetros de Conceição do Mato Dentro. Lá também foi mostrada uma casa, para exemplificar a diferença entre os modelos das construções e em seguida o grupo se reuniu novamente para tirar dúvidas com os reassentados.
Marinalva de Jesus, 62 anos, conhecida como Dona Quena, que recebeu o grupo em sua casa destacou: “sou moradora do reassentamento Piraquara há três anos, o intercâmbio foi um momento maravilhoso porque pude rever pessoas que não via há bastante tempo. Também esclarecemos muitas dúvidas de quem pretende fazer a negociação”, ela ainda ressalta: “sinto saudade do Sapo onde eu morava antes de vir pra cá, por causa da união da comunidade.
O intercâmbio foi marcado por reencontros e abraços calorosos de amigos, vizinhos e familiares que não se viam há algum, após a saída de suas comunidades de origem para os reassentamentos.
Elizete Sena, 22 anos, moradora da comunidade Passa Sete avaliou o intercâmbio: “gostei muito da atividade porque me permitiu esclarecer muitas dúvidas que eu tinha sobre as condições de vida no reassentamento. Percebi que além de enfrentar as dificuldades de uma mudança do local que fui criada, também enfrentaremos outros problemas que eu não tinha noção”, além disso ela sugere “espero que a ATI continue realizando eventos como esse porque foi muito gratificante essa troca de experiências”.
Texto e fotos: Bruna Daniely