NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Comissão de Atingidos e Colaboradores da ATI 39 participam, em Belo Horizonte, do Seminário: “Na Contramão do Discurso Ideológico da Mineração: Tragédias e Insustentabilidade”

[vc_row row_height_percent=”0″ overlay_alpha=”50″ gutter_size=”3″ column_width_percent=”75″ shift_y=”0″ z_index=”0″][vc_column width=”1/1″][vc_column_text]Texto: Lacy Aguilar – Secretaria Executiva e de Comunicação ATI 39/NACAB

                         Pisa ligeiro,
                               Pisa ligeiro,
                                     Quem não pode com a formiga,
                                             Não assanha o formigueiro ……

            Este foi o canto de luta dos atingidos participantes do Seminário “Na contramão do discurso ideológico da mineração: tragédias e insustentabilidade, realizado pelo Gabinete de Crise – Sociedade CivilGCSC que aconteceu nos dias 13 e 14 de setembro de 2019, na Faculdade de Medicina da UFMG.

            O Gabinete de Crise Sociedade Civil representa uma articulação de diversos movimentos sociais, pesquisadores e ativistas políticos do campo ambiental em contraposição ao Gabinete de Estado no sentido de reivindicar o controle social das ações desenvolvidas em torno do crime ambiental promovido pela companhia Vale, na Mina do Córrego do Feijão e em toda a bacia do Paraopeba, na data de 25 de janeiro de 2019, não se esquecendo do rompimento de Fundão, da Samarco, na bacia do Rio Doce.

            O Seminário foi organizado com o objetivo de promover um debate a partir do conhecimento e vivência dos participantes, trazendo diálogos e relatos de experiências e perspectivas no âmbito acadêmico, das vítimas da mineração e integrantes da sociedade civil.

            Com a presença de representantes da sociedade civil organizada; pesquisadores; professores; membros de comunidades vítimas de desastres de crimes socioambientais, atingidos pela lama invisível; ativistas de direitos humanos e ambientais; além de diversos atores dos diferentes retratos trazidos pela atividade minerária, o evento teve como proposta discutir, compartilhar informações e vivências e despertar o interesse dos participantes sobre temas relativos à exploração minerária predatória que vem sendo conduzida no Estado de Minas Gerais.

            Neste contexto, as comunidades de Conceição de Mato Dentro, afetadas pela atividade minerária, foram representadas por membros da Comissão de Atingidos do Beco, Cabeceira do Turco, Sapo e Turco, além de Coordenadores e Colaboradores da Assessoria Técnica Independente ATI 39 – NACAB, que participaram dos dois dias do evento.

            Na sexta-feira, dia 13 de setembro, o Seminário teve como temática a discussão sobre a mineração na perspectiva de ameaça à população, meio ambiente, cultura e modos de viver das diferentes comunidades de Minas Gerais bem como as possíveis buscas por caminhos para a superação do atual cenário.

            Neste dia foram tratados os temas: A ideologia da Mineração; Mineração: Pseudo Desenvolvimento; tragédias socioambientais Governança e Insustentabilidade e o Papel de Stakholders na Mineração e foi marcado pela participação de professores e autoridades no assunto como Andréa Zhouri (Gesta/UFMG), Bruno Milanez (Núcleo PoEMAS/UFJF), Euler Cruz (Eng. e Escritor), Klemens Augustinus Laschefski (Instituto Geociências/UFMG), Marcos Zucarelli (Gesta/UFMG), Maria Teresa Corujo (Ambientalista), Rodrigo Lemos (Pesquisador e Professor), Júlio Grillo (ProMutuca), Bella Gonçalves (Cientista Social e Vereadora de BH), Mateus Parreiras (Jornalista), Francisco Generoso (MPMG), e Leonardo Dupin (Lei.A).

            Todos tiveram seus momentos de fala, contando experiências, tanto acadêmicas como de contato direto com comunidades atingidas pela mineração por todo o Brasil e defendendo o direito dos atingidos.

            Já no sábado, dia 14 de setembro, os trabalhos foram conduzidos em formato de roda de conversa, com o tema “As diversas formas de ser atingido: a lama real e a lama invisível”, tendo como público as diferentes vítimas da mineração, protagonistas de conflitos socioambientais e ativistas, com o objetivo de promover o intercâmbio de informações e o fortalecimento das ações.

            Foi um momento participativo, onde todos os presentes puderam fazer suas contribuições, cada um com suas experiências profissionais, pessoais e de grupo, em relação a mineração. Neste dia, membros da comissão dos atingidos das comunidades às quais o NACAB presta assessoria, tiveram seus momentos de fala, quando apresentaram suas experiências de lutas e movimentos de resistência nas comunidades.

            O evento contou com a participação de diversos protagonistas impactados por desastres e conflitos relacionados com as atividades de mineração e seus desdobramentos, sendo que cada participante pode manifestar suas opiniões, saberes e sentimentos a respeito da ação devastadora que as atividades de mineração trazem aos diferentes locais onde se encontram instaladas.

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            Houve o compartilhamento de experiências quilombolas, indígenas e de moradores de comunidade atingidas em Mariana, Barra Longa, Brumadinho, Congonhas, Itabira, Barão de Cocais, Santa Bárbara, Nova Lima, Raposos, Rio Acima, Conceição de Mato Dentro, Serro e outras.

            Estas experiências foram dimensionadas e enriquecidas por meio das diferentes dinâmicas desenvolvidas ao longo do dia. Na mística de abertura foram compartilhadas falas e apresentações em que os participantes puderam se envolver e manifestar seus sentimentos, expectativas, desejos e vontades.

            Foi, também, um momento de reflexão e de apresentação de possibilidades, na busca por alento e esperança no sentido de promover o alcance de soluções efetivas para os problemas enfrentados cotidianamente por todos os atingidos.

            E, dentre as falas dos participantes, é importante destacar que sua opinião vai de encontro ao que se espera de uma Assessoria Técnica Independente, já que, para muitos as atividades minerárias são inevitáveis e já estão em franco desenvolvimento, não sendo possível sua paralisação. Mas é preciso que esta atividade seja sempre mitigada, compensada e traga benefícios para todos, não somente aos grandes empresários, mas também e sobretudo, para as populações que sofrem os impactos da atividade.

            Todas as discussões do dia levaram ao desejo de unificação das lutas contra ao modelo de mineração que existe em nosso país e, especialmente, em nosso estado.

            Destacamos, a seguir, um pouco do sentimento demonstrado pelos diversos atingidos que estiveram presentes ao evento:

            “Continuamos a operar como era no início do nosso estado de Minas Gerais, enviando nosso “Ouro” para fora e gerando desenvolvimento sim, mas para os países importadores, que ganharão e muito beneficiando nosso minério”.

            “Se querem minerar, que o minério seja beneficiado aqui, gerando sim desenvolvimento na nossa região”.

            “O pequeno retorno financeiro trazido pela mineradora vale tanta destruição da natureza? Trazendo comprometimento da saúde e bem-estar das comunidades ao entorno? ”

            “É importante lembrar que o valor da nossa vida é imensurável! ”

            “Daqui a alguns anos a mineradora vai embora e ficará somente a destruição, inclusive de vidas”.

            “ Hoje a Anglo quer abraçar todas as nossas comunidades… já destruiu as nossas árvores, já destruí nossas nascentes, já destruiu a nossa escola…e tudo hoje lá cada folha de que cai….. é a responsável por isto. Sem reconhecer as nossas lutas, sem reconhecer o nosso trabalho e a nossa dignidade…nós hoje não temos livros… nós hoje não temos água…nem jeito de fabricar as nossas comidas…as nossas árvores, pomares… eles não têm mais fertilidade…e a Anglo no oferece cestas básicas, nos oferece moradias no fim do mundo….nos trocando por dinheiro… isso para mim é uma grande humilhação… embora eu seja das Minas Gerais, eu me sinto uma “mina geral”.. já perdi meus amigos que não sei por onde andam….”

            “O sentimento é de perda… que temos que sair a todo custo, por que nós não temos valores.., valores está ali… no empreendimento…tenho dificuldade para realizar meu trabalho.. as pessoas estão indo embora… a ATI39 nos dá um apoio muito grande na nossa comunidade… eu sou uma pessoa que veste a camisa pela comunidade, que dou a cara à tapa me dou ao máximo…e entrei nessa luta com a comunidade para compartilhar”

            “Os impactos cada dia aumentam, a cada dia que passa, a gente vê uma coisa diferente. Sou de Conceição de Mato Dentro, no Turco, moro próximo à mineradora e a cada dia que passa ficamos tristes de ver fatos que acontecem na região…o PNO, muitas pessoas que aderem e saem são tratadas com destaque pela Anglo, que mostra como uma grande vantagem….achando questão fazendo uma coisa boa… mas não é verdade, eles estão saindo porque não estão aguentando mais… a Anglo coloca só as coisas boas, mas as pessoas estão se dando mal, porque não têm opção, por isto fazem a negociação….o PNO é “opcional” mas não tem outra opção…eles acham que a cesta básica vai suprir a necessidade, mas não vai… sua convivência muda…há muita desavença familiar… a Anglo tira um mas deixa outros sofrendo as consequências… e eu quero deixar um recado: o dinheiro compra a casa, mas não te dá um lar… compra a cama mas não te dá o sono…compra o livro, mas não te dá a sabedoria…compra o crucifixo mas não te dá a fé…compra até o remédio… mas não te dá a saúde…..”

            “Quero denunciar o que a empresa vem fazendo….nós fizemos a construção de uma rede de água que  fica dentro do Step III da empresa… Nós não imaginaríamos, jamais, que que chegaria uma empresa daquele porte na região…fizemos uma rede de 1500metros de agua pura e cristalina….. a empresa entrou na área e está nos tirando este direito de captação desta água…. se apoiaram na condicionante 11 e simplesmente passaram por cima de nossa história, na nossa luta por estas agua…eles não reconhecem a área de água no entorno, não considera nada… soterraram nascentes….destruíram o lençol freático e estão destruindo nossas aguas…estamos emitindo um grito de socorro…”

            Na avaliação dos Colaboradores da ATI 39 e dos representantes da Comissão de Atingidos que estiveram presentes no Seminário, foi uma grande oportunidade de formação, informação e compartilhamento de experiência. O evento foi muito enriquecedor pois permitiu, através do compartilhamento de experiências e vivências, o entendimento de que todos estão na mesma luta e, também, promoveu o entendimento de que são diversas as formas de ser atingido: há a lama real e a lama invisível, mas todos são afetados, todos são atingidos.

Fonte:

https://www.sympla.com.br/na-contramao-do-discurso-ideologico-da-mineracao-tragedias-e-insustentabilidade__614023

Membros da Comissão de Atingidos e Coordenadores e Técnicos Colaboradores do Meio Socioeconômico da Assessoria Técnica Independente – ATI 39 /NACAB

 

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