NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Ato contra racismo religioso marca o 1º Encontro de Povos de Terreiro da Região 3 da Bacia do Paraopeba

Praticantes de religiões de matriz africana demandam a criação de uma comissão própria na Região 3 para participação na reparação e acesso aos recursos previstos no Acordo de Reparação

Vestidos de branco e repletos de bençãos, representantes de terreiros da Região 3 se reuniram, no dia 25 de novembro, no Museu Bartolomeu Campos de Queirós, em Papagaios, para o 1º Encontro de Povos de Terreiro da Região 3 da Bacia do Paraopeba.  O foco do evento foi o debate sobre a gestão do anexo 1.1 do Acordo de Reparação assinado em 2021, levando em consideração as especificidades, necessidades e anseios dos povos de terreiro, cujas práticas religiosas e ancestrais estão intimamente ligadas às águas e à natureza.

Povos de Terreiro reunidos em ato contra a intolerância religiosa

A iniciativa foi promovida pelos praticantes de religiões de matriz africana, em parceria com a ATI Paraopeba Nacab, e teve ainda o objetivo de fortalecer a luta pela justa reparação dos povos de terreiro, atingidos de forma material e imaterial pela proibição do uso do rio Paraopeba em decorrência do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho.  

O anexo 1.1 prevê recursos para o desenvolvimento de projetos comunitários, além da disponibilização de crédito e microcrédito, visando a recuperação socioeconômica das pessoas atingidas pelo rompimento, em 2019. 

 Ao fim da reunião, visando a organização e o repasse mais efetivo deste grupo, foi encaminhada a criação de uma comissão própria, composta apenas com representantes de povos de religiosidade de matriz africana, para a participação e tomadas de decisão mais alinhadas à realidade e às prioridades destes grupos. 

"É importante ter uma organização, uma comissão que represente o nosso coletivo, começando pelas lideranças das casas e cada liderança com substitutos que sejam dos respectivos terreiros, pois uma pessoa só não consegue acompanhar tudo e pessoas que estão fora do contexto dos povos de terreiro não podem falar pela gente. Quem não sabe o que é um obé, um atabaque ou uma reza não pode nos representar, então temos que tomar a frente e mostrar nossa força, nos unindo e criando essa comissão para colocar nossos interesses em primeiro lugar.”
Pai Tozinho
zelador da Aldeia das Folha Tenda Pai Julião das Almas

 

Ato Público contra a intolerância e o racismo religioso 

Na parte da tarde, as pessoas participantes do encontro caminharam do Museu Bartolomeu Campos de Queirós até a porta da Casa de Umbanda Pai Xangô, num ato em defesa do funcionamento do centro religioso, que vem sendo alvo de denúncias e ameaças constantes, que buscam o fechamento e a proibição de suas práticas. A manifestação também teve o objetivo de dar visibilidade aos povos de terreiro da região, na luta contra a intolerância e o racismo religioso. 

"Queria agradecer a todas as pessoas pelo apoio, pois se não fosse isso talvez o nosso terreiro estivesse fechado. A falta de conhecimento muitas vezes nos deixa sem saber o que ou como fazer ou como agir diante das situações, como essa de intolerância, mas agora temos proteção contra isso e a tentativa de fechamento do terreiro. Na história de Papagaios nunca um estabelecimento comercial ou religioso foi fechado por falta de alvará e isso aconteceu com a gente, sabemos que é uma perseguição, mas agora estamos instruídos, com muita força e pessoas boas ao nosso lado. Que este movimento seja importante para todos os terreiros, para enfrentar ataques e a intolerância religiosa."
Pai Jardel de Xangô
zelador da Casa de Umbanda Pai Xangô

Texto e Imagens: Marcos Oliveira 
Edição: Leonardo Dupin

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