Nota de posicionamento Nacab, Insea e Sustentar
NACAB, INSEA e SUSTENTAR são organizações parceiras na condução da Assessoria Técnica Independente da Região 3 da bacia do Paraopeba, no processo de reparação do desastre-crime da Vale. Essas instituições são guiadas pelos princípios de defesa dos direitos humanos e contra quaisquer formas de preconceito e discriminação. Por meio desta nota, reafirmamos o compromisso com a luta pela igualdade racial, pois com racismo não há reparação.
Ao longo de nossas trajetórias, temos buscado trabalhar o combate ao racismo, por meio de estudos, defesa de direitos, campanhas de conscientização, incidência em políticas públicas de inclusão e de reconhecimento da identidade afro-brasileira. Por isso, exigimos respeito às pessoas atingidas e às nossas equipes.
Diante dos episódios de racismo que têm ocorrido na calha do Paraopeba, inclusive na região 3, com profissionais da nossa equipe, temos trabalhado na implementação de medidas para impedir que episódios como esse se repitam. Não compactuamos com quaisquer formas de violência, sejam elas de gênero, raça, credo, origem ou classe social. E não hesitaremos em tomar as medidas legais e administrativas necessárias para apurar e combater quaisquer manifestações de racismo.
Para além da criminalização de práticas racistas, é importante lembrar que essas formas de opressão (que têm por objetivo coagir, humilhar, desqualificar uma pessoa ou um grupo) são parte estruturante da sociedade e estão presentes no nosso dia a dia. Por isso mesmo, é importante se atentar a identificá-las e combatê-las em todos os espaços.
O racismo não se manifesta só na forma de ofensas, xingamentos, desqualificações, mas também em práticas cotidianas, na forma de piadas, de apagamentos das histórias e das contribuições das pessoas negras e dos sucessivos silenciamentos por elas suportadas. Práticas racistas podem vir até mesmo daqueles que nos amam, com quem compartilhamos a vida, das pessoas mais queridas.
O racismo também age na subjetividade, entre linhas facilmente perceptíveis para as pessoas negras e/ou sensíveis às pautas raciais. Por outro lado, essas situações podem ser imperceptíveis para pessoas que não se interessam ou não possuem facilidade de leituras e percepções para além do dito e do visível.
Em pesquisa socioeconômica realizada este ano na Região 3, foi identificado que 64% das pessoas entrevistadas se autodeclararam como pretas ou pardas. Esse índice alerta ainda mais para a importância de se combater o racismo e defender os direitos das populações negras no contexto dos desastres-crimes ambientais.
Discutir as dimensões do racismo, como o racismo ambiental e seus efeitos, inclusive o seu impacto para a defesa dos interesses das pessoas atingidas pelos desastres-crimes ambientais é urgente e necessário.
Por fim, queremos reforçar nossa solidariedade a todas as pessoas negras que cotidianamente sofrem os efeitos do racismo. Essa luta deve ser abraçada por todos/as nós!