Pesquisa do Nacab levanta consequências do rompimento da barragem da Vale em coletivos e comunidades tradicionais da região 3 do Paraopeba
Nos dias 8 e 9 de julho, equipes do Nacab estiveram nas comunidades dos Rosas, em Florestal, e Pindaíbas, em Pequi, para iniciar a pesquisa socioantropológica que está sendo realizada na região 3 da Bacia do Paraopeba. A pesquisa irá produzir um diagnóstico com comunidades e coletivos tradicionais que possibilitará a identificação desses grupos e uma avaliação das especificidades de cada dano sofrido por eles. O trabalho está sendo feito em parceria com a empresa Confluência, especializada nesse modelo de pesquisa.
No primeiro dia de atividades, analistas do Nacab e profissionais da Confluência estiveram na Comunidade dos Rosas, reunidos com cerca de 20 membros da família que deu origem ao grupo. Eles contaram sobre a sua história, ancestralidade e as atividades que realizavam em suas terras, hoje afetadas pelo rompimento da barragem da Vale em 2019.
Foi uma primeira conversa no sentido de entender as características do coletivo, suas tradições e relação com o território. Entre alguns relatos iniciais, a perda da pesca e da qualidade do solo foram as principais reclamações da comunidade, que já não usa mais o rio, perdeu a horta e várias árvores frutíferas na região impactada.
Já em Pindaíbas, comunidade rural do município de Pequi, a conversa ocorreu com cerca de 15 pessoas, sendo a maioria mulheres, que relataram um pouco as suas tradições, como as festas típicas e ensinamentos ancestrais, como a prática da benzeção. A pesca e a perda da relação com o rio também foram pontos fundamentais apontados pelo grupo.
A Pesquisa Socioantropológica do Nacab segue sendo realizada até o fim do mês de julho. Depois, um relatório será elaborado e entregue ao Nacab e aos grupos e comunidades entrevistados pela Confluência. Material esse que poderá auxiliar na elaboração da Matriz de Danos, mostrando com mais profundidade como esses grupos e coletivos tradicionais foram impactados pelo desastre-crime da Vale.
Para a coordenadora do escritório de Pará de Minas, que atende as duas comunidades, Lídia Vieira, as visitas foram de muita importância, com participação e receptividade acima do esperado.
“As pessoas estavam muito abertas ao diálogo, conversaram, trouxeram informações do passado, de como foi o processo de início das comunidades, como ocuparam aquele território. As terras dos Rosas, por exemplo, foram ocupadas por eles a partir do bisavô, Antônio Rosa, há mais ou menos 150 anos. Nesse sentido, foram encontros muito potentes e valiosos para o estudo”, explica a coordenadora.
Povos e Comunidades de Tradição Religiosa de Matriz Africana
Contribuindo para levantar e caracterizar as tradicionalidades afetadas pelo rompimento da barragem da Vale, o Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab) também está trabalhando com o Nacab na Região 3. Na parceria, o Cenarab trabalha diretamente com a identificação dos Povos e Comunidades de Tradição de Matriz Africana. Essa pesquisa quer apurar como essas práticas, que são patrimônio imaterial brasileiro, sofreram com o desastre.