NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens
Foto 04 - Lembranças das plantações antes do rompimento da barragem na Comunidade dos Rosas, em Florestal. (Bárbara Ferreira)

Comunidades e grupos tradicionais em foco

Pesquisa do Nacab levanta consequências do rompimento da barragem da Vale em coletivos e comunidades tradicionais da região 3 do Paraopeba

Nos dias 8 e 9 de julho, equipes do Nacab estiveram nas comunidades dos Rosas, em Florestal, e Pindaíbas, em Pequi, para iniciar a pesquisa socioantropológica que está sendo realizada na região 3 da Bacia do Paraopeba. A pesquisa irá produzir um diagnóstico com comunidades e coletivos tradicionais que possibilitará a identificação desses grupos e uma avaliação das especificidades de cada dano sofrido por eles. O trabalho está sendo feito em parceria com a empresa Confluência, especializada nesse modelo de pesquisa.

No primeiro dia de atividades, analistas do Nacab e profissionais da Confluência estiveram na Comunidade dos Rosas, reunidos com cerca de 20 membros da família que deu origem ao grupo. Eles contaram sobre a sua história, ancestralidade e as atividades que realizavam em suas terras, hoje afetadas pelo rompimento da barragem da Vale em 2019.

Na Comunidade dos Rosas, 20 membros da família que deu origem ao grupo contaram sua história e ancestralidade | Foto: Bárbara Ferreira

Foi uma primeira conversa no sentido de entender as características do coletivo, suas tradições e relação com o território. Entre alguns relatos iniciais, a perda da pesca e da qualidade do solo foram as principais reclamações da comunidade, que já não usa mais o rio, perdeu a horta e várias árvores frutíferas na região impactada.  

Já em Pindaíbas, comunidade rural do município de Pequi, a conversa ocorreu com cerca de 15 pessoas, sendo a maioria mulheres, que relataram um pouco as suas tradições, como as festas típicas e ensinamentos ancestrais, como a prática da benzeção. A pesca e a perda da relação com o rio também foram pontos fundamentais apontados pelo grupo.

A Pesquisa Socioantropológica do Nacab segue sendo realizada até o fim do mês de julho. Depois, um relatório será elaborado e entregue ao Nacab e aos grupos e comunidades entrevistados pela Confluência. Material esse que poderá auxiliar na elaboração da Matriz de Danos, mostrando com mais profundidade como esses grupos e coletivos tradicionais foram impactados pelo desastre-crime da Vale.

As mulheres de Pindaíbas relembraram as festas típicas, os ensinamentos ancestrais, e também apontaram a falta da relação com o rio | Foto: Bárbara Ferreira

Para a coordenadora do escritório de Pará de Minas, que atende as duas comunidades, Lídia Vieira, as visitas foram de muita importância, com participação e receptividade acima do esperado.

“As pessoas estavam muito abertas ao diálogo, conversaram, trouxeram informações do passado, de como foi o processo de início das comunidades, como ocuparam aquele território. As terras dos Rosas, por exemplo, foram ocupadas por eles a partir do bisavô, Antônio Rosa, há mais ou menos 150 anos. Nesse sentido, foram encontros muito potentes e valiosos para o estudo”, explica a coordenadora.

Povos e Comunidades de Tradição Religiosa de Matriz Africana

Contribuindo para levantar e caracterizar as tradicionalidades afetadas pelo rompimento da barragem da Vale, o Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab) também está trabalhando com o Nacab na Região 3. Na parceria, o Cenarab trabalha diretamente com a identificação dos Povos e Comunidades de Tradição de Matriz Africana. Essa pesquisa quer apurar como essas práticas, que são patrimônio imaterial brasileiro, sofreram com o desastre.

 

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