No último sábado (20), equipe do Escritório de Pará de Minas realizou encontro de mulheres na Comunidade dos Rosa, em Florestal
“Há quem diga que Dandara é um símbolo lendário que está representando um poder imaginário. Heroína para a gente, como deusa que ardente traz o revolucionário”…
Com o cordel de Jarid Arraes, do livro ‘Heroínas negras em 15 cordéis’, no último sábado, 20 de novembro, a equipe da ATI Paraopeba Nacab abriu reflexão sobre a história de mulheres negras, para lembrar do Dia da Consciência Negra, no encontro com mulheres da família Rosa, na zona rural de Florestal.
Essa comunidade fica na região do Ribeirão do Ouro, que desagua na bacia do Rio Paraopeba, e é atingida pelo rompimento da barragem em Brumadinho. É um território familiar, de população negra, tradicional e marcada pela presença de figuras femininas.
No encontro, cada participante se apresentou com um objeto que as representam e, em seguida, falaram da memória das mulheres de sua família, inspiradas pelo cordel sobre a guerreira Dandara. Guardiãs de uma memória ancestral, nas falas elas demonstraram preocupação de como suas tradicionalidades, costumes e lembranças ribeirinhas, transmitidas por diversas gerações e séculos, vão resistir aos danos do desastre-crime da Vale.
Rotinas e mudanças
Em uma das dinâmicas do encontro, foi simbolizado um relógio para entender a rotina das mulheres naquela comunidade; identificar questões como sobrecarga de trabalho; e como se relacionam com a terra e com os danos do rompimento.
Sirlene Aparecida de Assis, uma das moradoras da comunidade, falou sobre a força de sua mãe, suas 11 irmãs e como a família sempre se uniu para conquistar a terra, para os trabalhos domésticos e rurais. “Pensando nas mulheres, lembro de um trabalho que faço na minha igreja sempre com esse tema. Leio a Bíblia todos os dias, gosto muito, porém sempre percebo que a história das mulheres não é contada, ou é contada apenas por alto. Muitas nem tem seu nome revelado e com essa conversa de hoje penso mais uma vez sobre isso”, refletiu.
A abordagem faz parte de um trabalho que tem sido feito pela equipe do escritório de Pará de Minas com as mulheres atingidas. O primeiro encontro foi em Córrego de Areia, em Fortuna de Minas. Relembre: Encontro de mulheres reúne histórias e memórias de comunidades atingidas Barragens.
Pesquisa com mulheres
Esses encontros também tiveram objetivo de preparar as comunidades para uma pesquisa iniciada pela ATI nesta semana, que irá levantar os danos do rompimento na vida das mulheres. A pesquisa ocorre na região 3 nos próximos 15 dias e está sendo realizada pela equipe da ATI Paraopeba Nacab junto com a consultoria Saberes Populares.
Os dados coletados, por meio de entrevistas e oficinas com grupos de mulheres, serão levados à Matriz de Danos, que é o instrumento feito que vai listar e estimar valor a cada um dos danos identificados, para basear valores justos às indenizações individuais.
Além de buscar identificar os danos específicos, o estudo pretende fortalecer os vínculos entre as mulheres atingidas, ampliar a participação no processo de reparação e incentivar a autonomia delas nos territórios onde vivem a atuam.
Saiba mais sobre a pesquisa, em: Pesquisa vai apurar danos de mulheres da região 3.
Confira fotos do Encontro de mulheres da Comunidade dos Rosa, em Florestal:
Texto e fotos: Bárbara Ferreira
Edição: Brígida Alvim