Realizada em Córrego de Areia, Fortuna de Minas, atividade do Nacab busca envolver as mulheres no levantamento de danos do rompimento da barragem da Vale
Arroz, alho, cebola, queijo e outros alimentos marcaram o início do primeiro encontro das mulheres de Córrego de Areia, Casa Nova e Peixe Bravo – algumas das comunidades do município de Fortuna de Minas, atingidas pelo rompimento da barragem da Vale. O encontro foi realizado pela Assessoria Técnica Independente (ATI) Paraopeba Nacab, nesta quarta-feira, 27, e reuniu 25 mulheres na Associação Comunitária de Córrego de Areia.
Essas comunidades têm tradição em agricultura familiar e cultivam os saberes da terra há diversas gerações. Convidadas a levarem um elemento que contasse um pouco sua história, as moradoras escolheram nas plantações e produções agrícolas algo para simbolizar sua tradição, cultura e memórias, hoje ameaçadas pela contaminação do Rio Paraopeba.
Outra dinâmica aplicada pela ATI foi a de oferecer um relógio em branco para cada uma das participantes preencher com suas atividades diárias. O intuito foi levantar, principalmente, se há sobrecarga de trabalho e atividades entre as mulheres da região. Foi um espaço importante para refletir, conversar e promover a união entre elas.
“Aqui a gente planta, a gente mexe com os bichos, cuida da casa, lava roupa, faz quitanda, comida e cuida da família. E é muito bom poder estar junto com vocês para falarmos da nossa comunidade”, afirmou Dália Moreira Cunha Fernandes, de 66 anos. Assim como ela, a maioria das mulheres da região trabalha com a terra, mas também cuida da casa e da família.
Ao final, todas falaram sobre seu dia a dia, apresentando seus relógios, e puderam se conectar ainda mais, ao perceberem a semelhança da rotina de todas. E já deixaram encaminhado um próximo encontro entre elas, para novembro. A equipe do Nacab em Pará de Minas planeja promover encontros como este com pelo menos outros sete grupos de mulheres da região.
Colcha de retalhos
As mulheres que participaram do encontro levaram para casa um pedaço de tecido e materiais para produzirem algo que simbolize o seu território e suas memórias. Nos próximos encontros, elas irão juntar cada um desses retalhos e produzir um grande painel.
Esta atividade tem como objetivo principal unir as mulheres da comunidade, mas também entender a rotina delas e o que mudou após o desastre-crime da Vale. Para aprofundar nesse tema e coletar dados sobre as mulheres da região 3, em novembro a ATI Paraopeba Nacab vai iniciar um estudo sobre os danos do rompimento da barragem com as mulheres atingidas.
Reportagem e fotos: Bárbara Ferreira