Entre os meses de junho a agosto deste ano, o Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab) está trabalhando na identificação de Povos e Comunidades de Tradição Religiosa de Matriz Africana (PCTRAMA), no perímetro da região 3 da bacia do Paraopeba. O estudo, desenvolvido em parceria com a Assessoria Técnica Independente Nacab, tem objetivo de caracterizar grupos e organizações religiosas de matriz africana, que são consideradas comunidades tradicionais, e levantar junto a elas possíveis danos imateriais relacionados ao desastre-crime da Vale.
As equipes do Cenarab já realizaram visitas a 26 pontos de vivência religiosa de matriz africana, nos arredores do rio Paraopeba. A abordagem às pessoas e comunidades segue um protocolo de consulta previamente elaborado pela entidade, em parceria com o Nacab. Este protocolo cumpre um direito das comunidades tradicionais, garantido pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), para garantir o respeito às tradicionalidades dessas pessoas, além de facilitar o diálogo entre a assessoria técnica independente e os coletivos atingidos da região.
Entrevista com Cenarab
Em entrevista concedida em vídeo ao Nacab, a coordenadora do Cenarab, Makota Celinha, defende a relevância do estudo para identificação de grupos e pessoas de religiões de matriz africana entre as vítimas do rompimento da barragem da Vale.
Passando por problemas como o racismo estrutural, que historicamente reprime a afrodescendência no país e dificulta o autorreconhecimento e a identificação de quem vivencia a ancestralidade africana, ela ressalta a importância de caracterizar os danos específicos que podem ter sido causados pelo rompimento da barragem da Vale nas vidas e tradições dessas pessoas.
A íntima relação dessas religiões com a natureza é um importante indício de perdas e ameaças causadas pelo desastre-crime ambiental. “A nossa religião é essencialmente ecológica. Não conseguimos manter as nossas práticas se não cultuarmos a natureza”, descreve Makota Celinha.