Nesta sexta-feira, 2 de outubro, começaram a circular na imprensa mineira notícias sobre uma suposta recuperação da qualidade da água do Rio Paraopeba. O Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab) vem por meio desta nota denunciar a irresponsabilidade dessa informação. As afirmações veiculadas se baseiam em um estudo contratado pela própria Vale, divulgado pela empresa de forma mal intencionada, às vésperas de uma importante audiência judicial na qual serão discutidos aspectos importantes a respeito do pagamento emergencial pago às vítimas e que têm data marcada para terminar em outubro deste ano. O fim do auxílio vem sendo contestado pelas comunidades atingidas, já que as consequências do rompimento da barragem da Vale persistem por Brumadinho e toda a bacia do Rio Paraopeba.
Apesar do estudo ter sido elaborado com o levantamento de dados finalizado em março deste ano, seus resultados foram divulgados apenas às vésperas da decisão judicial deste mês de outubro. Além disso, os resultados dos estudos apresentados nas matérias são questionáveis, visto que esta não é uma pesquisa independente e dificilmente produziria provas contra a sua contratante, que é a mineradora Vale. Desta maneira, não é possível certificar a qualidade e a confiabilidade do estudo em questão.
De acordo com as matérias, o estudo envolveu quatro campanhas de análises, sendo que três campanhas foram realizadas em períodos secos e uma realizada no mês de março, já no fim do período chuvoso. A Gerência de Qualidade da Água da ATI R3 NACAB considera que isto é uma falha importante e que compromete a capacidade de se tirar conclusões sobre a qualidade da água do Rio Paraopeba, pois a disponibilidade de resultados que não abrangem o auge do período chuvoso tende a mascarar a real concentração dos metais decorrente do rompimento.
As matérias sugerem também que atualmente o esgoto é mais nocivo ao rio do que o rompimento da barragem, o que não condiz com a realidade. Estes metais normalmente não são encontrados em grandes concentrações no esgoto doméstico. Além disso, boletins informativos do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) demonstram que houve sim acréscimo nas concentrações de diversos metais encontrados na água do rio após o rompimento da barragem.
Diversas instituições, tais como as Assessorias Técnicas Independentes (ATIs), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), a Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG), a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA), vêm desenvolvendo estudos independentes sobre a contaminação do Rio Paraopeba. Alguns desses estudos têm mostrado que, de fato, a água do rio permanece inadequada para usos diversos, como, por exemplo, consumo humano, dessedentação de animais, irrigação e mesmo para recreação.
O IGAM mantém a recomendação de que a água do Rio Paraopeba não deve ser utilizada no trecho que abrange os municípios de Brumadinho até o limite da Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, em Pompéu (aproximadamente 250 km de distância do rompimento). O Nacab, que ao final de setembro iniciou o mapeamento de pontos onde serão coletadas amostras de água para análise na Região 3 da bacia do Paraopeba, apoia e reforça a orientação para que as pessoas não acessem e utilizem a água do rio.