Mulheres atingidas da Região 3 da bacia do Paraopeba debatem a reparação com base em pesquisa de danos realizada pelo Nacab
Desde o começo de 2023, estão acontecendo na Região 3 rodas de conversas com as mulheres atingidas. Em janeiro, o encontro ocorreu no município de Esmeraldas (lembre aqui como foi). Já em março e abril, a ATI Paraopeba Nacab realizou oficinas nas comunidades atingidas dos municípios de São José da Varginha, Fortuna de Minas, Pequi e Pará de Minas.
Os encontros têm como objetivo a apresentação dos resultados obtidos no estudo de levantamento de danos específicos vivenciados pelas mulheres, após o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho. Com base nos dados da pesquisa, as mulheres também têm debatido nesses encontros propostas de reparação sob o seu ponto de vista.
“Além do acesso à informação sobre o resultado da pesquisa, as oficinas estimularam o encontro, a união, o debate sobre autonomia financeira, cursos de capacitação, ideias de projetos e tantos caminhos possíveis para uma reparação que as mulheres consideram justa”, explica a assessora especial de mulheres da gerência de reparação socioeconômica da ATI Paraopeba Nacab, Ângela Oliveira.
Partilhar e construir
As oficinas possibilitaram também a troca de saberes e vivências entre as diversas mulheres da Região 3. Em cada uma das comunidades, o encontro era potencializado por uma especificidade local, que agregava as mulheres presentes em torno de uma nova experiência.
Em Pequi, a atingida Patrícia de Campos promoveu uma oficina de pintura em tecido. Já em Casa Nova, Fortuna de Minas, a roda de conversa aconteceu no quintal produtivo da Dona Ilma. Na comunidade de Muquém, em Pará de Minas, as mulheres partilharam uma grande mesa com quitandas produzidas por elas mesmas.
Junto a tantas partilhas, também foram compartilhados desejos para os projetos de reparação que estão acontecendo no território, a partir da execução do Acordo Judicial de Reparação dos danos causados pelo desastre-crime.
“É muito importante que venha uma escola como a EFA [Escola Família Agrícola] pra cá, para ensinar as pessoas jovens sobre os cuidados com a terra e não deixar os conhecimentos tradicionais se perderem. É preciso reverter essa situação de os jovens irem para a cidade, porque isso está na contramão do combate à fome, com a roça ficando sem mão de obra. Precisamos pensar políticas públicas e educação que transfira os conhecimentos e mantenham as pessoas jovens no campo”, expressou Adriana, moradora da comunidade de Córrego de Areia, em Fortuna de Minas.
Encontros continuam
Durante todo o mês de maio, o Nacab continuará realizando este ciclo de conversas que vem ocorrendo repleto de sentimentos, boas ideias e desejos de construir saídas, não apenas para os problemas decorrentes do desastre-crime, mas também para os tantos que já existiam nas comunidades antes do rompimento.
“Têm sido momentos repletos de emoção e muita partilha. As mulheres unidas sonham a reparação a partir do seu território. Também tivemos o cuidado de criar um espaço para o acolhimento das crianças para que as mulheres pudessem participar com qualidade do debate”, destaca Ângela Oliveira.
Confira abaixo os álbuns de fotos dos encontros realizados nas comunidades de Soledade (Pequi), Córrego do Barro (Pará de Minas), Beira Córrego (Fortuna de Minas) e no município de São José da Varginha.
Danos às mulheres
A pesquisa sobre os danos causados às mulheres pelo crime da Vale foi contratada pelo Nacab e executada pela Consultoria Saberes Populares no final de 2021. O estudo contou com a participação de mais de 100 mulheres atingidas da Região 3. Para conhecer os resultados, clique na imagem abaixo!
Matéria e fotos: Karina Marçal
Edição: Raul Gondim