O crime da Vale em Brumadinho em 25 de janeiro de 2019 assassinou 272 vidas e alterou também a vida de milhares de pessoas, em Brumadinho e em toda bacia do Paraopeba. As famílias seguem tentando, duramente, reconstruir as suas vidas.
Em toda esta dor e sofrimento o povo construiu mobilizações, e buscou se organizar e denunciar as violações contínuas que têm acontecido ao longo destes 3 anos e meio. Muitas lideranças surgiram também destes processos de lutas coletivas; e uma delas é a Marina Paula Oliveira.
Marina é uma jovem de Brumadinho, que se envolveu nas primeiras ações de solidariedade, em apoio à população atingida, que estavam em curso na sua cidade. Pouco tempo após o rompimento passou a compor equipes que realizavam o trabalho de mobilização das comunidades para as pautas coletivas e, também, articulações para dar visibilidade ao que estava acontecendo. Ao longo do período pós rompimento ocorreram inúmeros ataques contra as pessoas e organizações que atuavam de forma crítica à Vale e à mineração. Estas ameaças foram feitas de forma apócrifa em alguns momentos e, em outros, explicitamente realizados por grupos conservadores de Brumadinho. Nos últimos meses estes ataques se voltaram também contra Marina, em inúmeros assédios virtuais, telefônicos e em constrangimentos públicos na cidade. Diante da escalada das ameaças, organizações de Direitos Humanos fizeram uma recomendação de que Marina saísse do Brasil, por algum tempo, para a garantia da preservação de sua integridade física.
Ameaçar Marina Paula Oliveira, por suas ações pelos atingidos e atingidas pelo crime da Vale, é uma ameaça a todos militantes que lutam contra os absurdos cometidos pelas mineradoras. A saída de Marina do Brasil é também um reflexo do que estamos vivendo no país, com o crescimento do neofascismo, onde os riscos contra a vida das lutadoras e lutadores sociais aumentaram; e o ultraconservadorismo passou a se sentir ainda mais confortável para ameaçar quem levanta a voz pela justiça.
E coletivamente afirmamos: Marina, não vão calar a sua voz. Porque a sua voz é coletiva. A sua voz ecoa as vozes de muitos e muitas. Inclusive daqueles que não estão mais aqui, porque a Vale os assassinou. Nós seguiremos aqui, em luta contra as injustiças são feitas cotidianamente contra Brumadinho e contra a bacia do Paraopeba. E nós também estaremos aqui para te acolher assim que seja seguro para que possa voltar. Não aceitaremos que ameaças contra os atingidos e atingidas sejam naturalizadas. Marina, estamos com você!
Em solidariedade e indignação assinam:
Aldeia Naô Xohã
Aldeia Katumarã
Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (AEDAS)
Associação Indígena do Povo Katumarã (AIKA)
Cáritas Regional Minas Gerais
Instituto de Direitos Humanos (IDH)
Instituto Guaicuy
Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (INSEA)
Movimento Brasil Popular (MBP)
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM)
Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (NACAB)