Nesta semana, a ATI Paraopeba Nacab inicia pesquisa com as mulheres atingidas, que irá compor a Matriz de Danos da Região 3
Para muitas mulheres da região 3, o desastre-crime da Vale significou uma mudança muito grande em suas rotinas, no trabalho e vida familiar. A agente comunitária de Pindaíbas, em Pequi, Valdilene Adriana da Silva, afirma que os homens estão mais tristes, as mulheres estressadas, deprimidas. “Os maridos não estão indo mais para o rio e na falta de ocupação e lazer, a maioria vai para o bar, bebe e ocupa a cabeça com coisas ruins. Isso mudou muito a vida da comunidade”, afirma. As mudanças causadas pelo rompimento da barragem da Vale afetam diretamente a vida dela e de milhares de outras mulheres ao longo da bacia do Rio Paraopeba.
Esse depoimento foi coletado em março deste ano para um boletim especial sobre as mulheres atingidas. E foi a partir desses relatos e do contato com essas mulheres que a ATI Paraopeba Nacab viu a importância de realizar uma pesquisa para identificar e quantificar o atingimento das mulheres. Já foram feitos diversos levantamentos de danos a partir de pesquisas gerais em todo o território e, agora, o foco será identificar alguns danos a grupos específicos, como é o caso das mulheres. E nesta semana, a partir de 22 de novembro, mulheres da consultoria Saberes Populares estarão na Região 3 do Paraopeba para desenvolver a pesquisa, junto com profissionais do Nacab.
Francine Pinheiro, integrante da equipe de Matriz de Danos e do Grupo de Trabalho (GT) de Mulheres da ATI, explica que serão desenvolvidas diversas atividades em campo, entre os dias 22 de novembro e 4 de dezembro: “Neste período, ocorrerão oficinas participativas em várias comunidades, rodas de conversa e entrevistas individuais, no intuito de identificar os danos materiais e imateriais provocados pelo rompimento da barragem na vida das mulheres”, explica. A pesquisa será feita por amostragem, com mulheres de várias comunidades atingidas na região 3.
Matriz de Danos
Além de buscar qualificar os dados sobre as mulheres da região 3, a pesquisa também será utilizada para a Matriz de Danos, que está sendo elaborada pela ATI Paraopeba para quantificar e calcular todos os danos sofridos a partir do rompimento da barragem em Brumadinho, há quase três anos. Esse documento será incluído no processo e poderá auxiliar as pessoas atingidas em suas indenizações individuais. Para que a Matriz de Danos seja fiel ao retrato da região, são muito importantes esses estudos, os relatos das pessoas atingidas e todas as atividades realizadas em campo.
Encontros de mulheres
Além das atividades previstas para a pesquisa com as mulheres, os três escritórios do Nacab na Região 3 vêm mobilizando mulheres em diversas comunidades, para fortalecer a atuação delas e criar espaços de diálogo sobre o que mudou em suas vidas após o desastre-crime da Vale. Em Paraopeba, elas se reuniram em uma oficina de cosméticos naturais e autocuidado, realizada em 19 de outubro. Já o Escritório de Pará de Minas organizou no último mês um encontro de mulheres em Córrego de Areia, no município de Fortuna de Minas, e outro na comunidade dos Rosa, em Florestal, envolvendo dinâmica sobre a rotina de trabalho na comunidade.
A ATI quer manter um trabalho contínuo com grupos de mulheres na região 3 e para isso planeja outros encontros e atividades para o próximo ano. Acompanhe mais notícias e fotos dessas atividades pelo site e redes sociais do Nacab.
Texto e narração: Bárbara Ferreira
Edição: Brígida Alvim