A partir dessa segunda-feira, 28 de junho, o Nacab inicia uma pesquisa socioantropológica para diagnóstico relativo às comunidades e coletivos tradicionais presentes nos territórios da região 3 da Bacia do Paraopeba.
Esse estudo possibilitará identificar e entender as especificidades de cada dano sofrido de acordo com as características sociais, culturais e territoriais desses coletivos. A atividade será realizada em parceria com a empresa Confluência, especializada nesse modelo de pesquisa, devidamente acompanhada pela equipe técnica do Nacab.
Ainda buscando levantar e caracterizar as tradicionalidades afetadas pelo rompimento da barragem da Vale, o Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab) também estará presente na Região 3, em parceria com o Nacab, identificando os Povos e Comunidades de Tradição Religiosa de Matriz Africana. Essa ação visa apurar como a prática e a existência desse patrimônio cultural imaterial brasileiro foram comprometidas pelo desastre.
“Por terem sua identidade, seus saberes e fazeres em profunda relação de interação com seu ambiente, com a natureza e a diversidade de seus recursos, a contaminação do rio Paraopeba e de todas as formas de vida no seu entorno gera para essas comunidades, entre outros danos, perdas de práticas ancestrais de sua cultura. Tais danos podem ameaçar a preservação de sua história, tradição e identidade, incluindo o exercício da espiritualidade e da crença religiosa”, explica a analista da Gerência de Socioeconomia e Cultura do Nacab, Leila Regina.
Abordagem específica
As pesquisas socioantropológicas na Região 3 do Paraopeba serão realizadas de forma presencial, atendendo a todos os protocolos sanitários de prevenção à Covid-19 e aos protocolos comunitários de relacionamento com agentes externos, que são específicos de cada território.
Cabe ressaltar que elas são orientadas pelas regras de proteção jurídicas e culturais que resguardam as comunidades e coletivos tradicionais. Para tanto, o Nacab e as instituições parceiras no estudo construíram roteiros com linguagens e metodologias específicas, respeitando a diversidade da organização e de seus modos de vida.
Leila destaca que as informações levantadas serão organizadas pelo Nacab e contribuirão para construção da Matriz de Danos, que é um instrumento importante para estabelecer os valores de uma reparação justa para todos, com respeito às características de cada comunidade e coletivo. “A Matriz de Danos será amplamente discutida com as pessoas atingidas, até que todos os danos decorrentes do rompimento da barragem da Vale na região estejam devidamente abordados”, acrescenta.
Quem são os povos e coletivos tradicionais?
Os povos e comunidades tradicionais são grupos culturalmente diferenciados, que possuem condições sociais, culturais e econômicas próprias, mantendo relações específicas com o território e com o meio ambiente no qual estão inseridos.
Desenvolveram maneiras próprias de viver, produzindo tecnologias e saberes (sobre solos, vegetação, animais, águas, etc.) que são transmitidos pela tradição e dependem do território em que vivem para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica.
Os modos de vida característicos fazem com que esses grupos se autorreconheçam como portadores de identidades e direitos específicos. São exemplos desses povos: indígenas, quilombolas, pescadores artesanais, povos de terreiro, geraizeiros, ciganos, vazanteiros (barranqueiros), dentre outros.
Acompanhe os canais de comunicação do Nacab para mais informações sobre as etapas deste e de outros estudos realizados pela Assessoria Técnica Independente da Região 3!
Texto: Marcio Martins
Arte: Fabiano Azevedo