Encontro mobilizou pessoas da região para pensar a reparação, tendo estes grupos e práticas como prioridade
Em 19 de novembro foi realizado o primeiro Encontro de Povos e Comunidades Tradicionais da abrangência do escritório de Pará de Minas, no Espaço Cultural Rui Saraiva, da Universidade Federal de Viçosa, em Florestal (MG).
O objetivo da iniciativa foi pensar a organização coletiva para incidir nas políticas de reparação previstas no Acordo de Reparação Integral, assinado em fevereiro de 2021, entre a Vale e Comitê de Compromitentes (Governo de Minas, Ministério Público Federal e Estadual), e que vem sendo implementadas.
A reunião ressaltou a urgência do acesso desses povos e comunidades a políticas públicas, com respeito a suas tradições, para perpetuá-las nas futuras gerações. Inicialmente foi feita uma reflexão sobre as tradicionalidades da região de Pará de Minas, construindo um mapa da partir dos elementos apresentados pelos participantes.
Neste mapeamento foram apresentadas práticas ligadas a agricultura, pesca, festejos, religiosidade, cultura e experiências que mostram o cuidado e a relação com o território, respeitando a terra e o rio, indicando que a tradicionalidade é algo vivo, em construção.
Entre os objetos escolhidos para representar a tradicionalidade estiveram: peneiras, bordados, farinhas, doces, biscoitos, instrumentos, tecidos, máscaras e itens de pesca.
“Nossos pais deixaram um testamento para gente e isso não pode acabar, pois só temos a recordação que eles e nossos avós passaram. Na atividade a gente lembrou o passado, quando plantávamos milho, feijão e arroz, na beira do rio. Os objetos que trouxemos representam a margem do Paraopeba. São coisas que a gente colhia lá, e ficamos tristes porque nem na beirada do rio a gente vai mais. A gente pegava o peixe para comer e, quando sobrava, vendia ou dava para alguém. Hoje plantamos pouco, pois não tem área para a produção”, contou Dália Moreira, moradora de Córrego de Areia, em Fortuna de Minas.
“Como a cultura tem que continuar, a reparação tem que acontecer, é infinita essa busca, pois sozinhos não vamos a lugar nenhum. Saio da reunião com o pensamento de união. A gente vem ao encontro para mostrar a cultura de nossa família, comunidade, e volta com uma bagagem muito grande, conhecendo e respeitando a cultura dos outros povos que estão aqui. Trouxe artesanato, quitandas, doces, geleias e o principal que é a pesca, cultura maior de nossa comunidade, através de fotos e artigos de pesca do meu tio e do meu avô”, afirmou Patrícia Braga, moradora da Comunidade de Campos, em Soledade.
No encontro também houve debate sobre a legislação, com ênfase no Decreto nº 6.040, de 2007, cujo objetivo principal é promover o desenvolvimento sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.
Na sequência aconteceu uma conversa sobre organização coletiva, para que estes povos possam incidir no Sistema de Participação, somando forças e priorizando as demandas dos Povos e Comunidades Tradicionais.
A atividade terminou com uma Feira de Trocas Culturais, um espaço de troca de sementes e mudas, troca de artesanatos, quitandas, receitas, remédios naturais, histórias, saberes e sabores.
Reportagem e fotos: Marcos Oliveira
Edição: Leonardo Dupin e Raíssa Lopes