NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Prefeitura de Conceição do Mato Dentro delimita comunidade rural de Gondó

Delimitação do território reconhece localidades de Solidão, Diamante, Retiro São Francisco, Fazenda Paulista e Ribeiro, que estão sendo desconsideradas pela Anglo American 

Gondó, comunidade rural de Conceição do Mato Dentro-MG, atingida pelo complexo minerário da Anglo American. Foto: Cecília Santos

No dia 7 de junho, a Prefeitura Municipal de Conceição do Mato Dentro, por intermédio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana (SMAAGU), protocolou o Parecer Técnico nº 01/2024, que define os limites do povoado de Gondó, localizado na zona rural do município. Segundo o documento, junto às localidades de Buriti, Durão 1 e 2 e Gondó Central, as localidades de Solidão, Diamante, Retiro São Francisco, Fazenda Paulista e Ribeiro também compõem o povoado. Essas cinco últimas localidades não foram consideradas pertencentes à Gondó nos estudos apresentados pela Anglo American para a realização do Plano de Ação de Reassentamento (PAR) das famílias atingidas pelas operações do complexo minerário.  

Segundo o parecer, os estudos contratados pela Anglo American, realizados pelas empresas Ferreira Rocha Assessoria e Serviços Socioambientais e a Synergia Socioambiental “não consideraram o entendimento do poder público municipal, considerando que a comunidade está localizada no Município de Conceição do Mato Dentro.” De acordo com a Prefeitura, a delimitação e definição de uma comunidade rural deve reconhecer as relações culturais, sociais, históricas, ambientais e políticas do povoado, para além de suas perspectivas econômicas.  

Para a delimitação do território, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana considerou os dados da Cartografia das Afetações realizada pela Cáritas ATI 39 em 2022. Além disso, eles se basearam na legislação vigente e informações relacionadas ao uso do solo e à bacia hidrográfica da região. O parecer afirma que as localidades de Gondó estão em uma mesma sub-bacia hidrográfica e sofrem igualmente os impactos das atividades da Anglo American. 

Mobilização e luta da comunidade

Primeira Oficina de Construção do Plano de Reassentamento (PAR) de Gondó. Foto: Cecília Santos

Desde 2022, a comunidade, as ATIS (Cáritas e Nacab) e o Ministério Público vêm questionando os estudos contratados pela Anglo American sobre a delimitação da comunidade. Tais questionamentos foram oficializados pelo Ofício nº 81/SUPRAM JEQ/MPMG/AA protocolado pelo Ministério Público, em setembro daquele ano, junto à Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad-MG), via Superintendência Regional (Supram – Jequitinhonha).  

A resposta ao Ofício nº 81 foi cobrada diversas vezes pelo Ministério Público, Procuradoria Municipal, comunidades e a ATI. O ofício foi discutido, inclusive, durante as cinco Oficinas do PAR, realizadas pela mineradora junto à comunidade, entre outubro de 2023 a abril de 2024, uma vez que cinco das localidades de Gondó estão sendo excluídas do PAR. 

Em abril deste ano, lideranças de Gondó, acompanhadas pela ATI 39 Nacab, foram à Superintendência Regional (Supram Jequitinhonha), na cidade de Diamantina, para cobrar os andamentos do ofício. Também participaram da reunião, o promotor Caio Dezontini, representantes da Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Social (Cimos), do MPMG, e o Procurador do Município de Conceição do Mato Dentro, Filipe Gaeta.  

Nesta reunião, ficou encaminhado que a Supram oficiaria a Prefeitura sobre a necessidade de caracterização e definição do povoado de Gondó. O Ofício Nº 7 FEAM/URA JEQ nº 7/2024, assim, solicitou que a Prefeitura se manifestasse em relação ao Ofício Nº 81. O Parecer Técnico que define a comunidade é uma resposta a ambos os Ofícios. 

Próximos passos

A Prefeitura protocolou o parecer junto à Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMAD), que deve oficiar a Anglo American sobre a necessidade de inclusão das localidades de Solidão, Diamante, Retiro São Francisco, Fazendas Paulista e Ribeiro como áreas atingidas pelas atividades e impactos da mineração, já que estas, segundo a delimitação, pertencem à comunidade de Gondó.  

O analista jurídico da ATI 39 Nacab, Pedro Rocha, ressalta: “Segundo o que a Anglo American disse em reunião, a delimitação da comunidade pela Prefeitura não garantiria que as localidades fossem contempladas pelo PAR. Mas, a nosso ver, o Parecer Técnico é um primeiro passo, que se configura como ação importante para efetivação dos direitos individuais e coletivos da comunidade de Gondó”.  Importante destacar que a delimitação/definição dos limites da comunidade é competência do órgão público, ou seja, da Prefeitura, e não da mineradora.

Reportagem: Cecília Santos
Edição: Brígida Alvim
Comunicação da ATI39 Nacab