Moradores do reassentamento rural Fazenda Piraquara, atingidos pelo complexo minerário da empresa Anglo American estiveram na Câmara Municipal de Conceição do Mato Dentro, no último dia 13 de junho para expor suas demandas e requerer ao poder público ajuda para resolver os diversos problemas de infraestrutura, abastecimento de água e saneamento, enfrentados cotidianamente no reassentamento.
O reassentamento Piraquara, como é chamado pelos atingidos, está localizado a cerca de 5km da cede do município de Conceição do Mato Dentro e comporta 14 famílias com, aproximadamente, 53 pessoas reassentadas pelo programa ofertado pela empresa para realocação de pessoas residentes em Área de Influência Direta (AID)
As famílias reassentadas têm enfrentado diversos problemas relacionados ao funcionamento de estruturas básicas e, durante a visita à Câmara, apresentaram principalmente os problemas relacionadas ao acesso à água e questões relacionadas à sua qualidade.
Foram apresentados relatos de frequente falta de água, e de comprometimento de sua qualidade, como: água com aspecto “estranho” e contaminada. Segundo relato de uma reassentada, por vezes, a água chega em sua casa barrenta, causa mancha nas vasilhas e contamina a produção agrícola.
Os relatos são contundentes e mostram a situação de vulnerabilidade em que se encontram os reassentados. Na fala de uma atingida:
Nós precisamos da análise da água. Pra ter certeza de que a água tá ótima, nós precisamos da análise. Tem que apresentar essa análise “pra” gente ter certeza da qualidade. Porque o que a gente “tá” vendo é diferente.
Outro ponto apresentado tem a ver com a questão dos poços coletivos. Na ocasião, questionaram a gestão do poço no futuro, considerando que o empreendedor tem tempo limite para acompanhamento dessas famílias, conforme estabelece o Programa de Convivência por ela implantado. O relato de uma das atingidas reassentadas explicita a situação:
Nós estamos aqui hoje para buscar com vocês uma ajuda, para encontrar “pra” nós uma solução o mais rápido possível. Porque a gente não está tendo condição de esperar mais não. O nosso problema maior é a água. Temos um poço somente para 9 famílias. Como um poço pode atender a esta quantidade de família? Todo dia “tá” faltando água.
Para além dos problemas com a água, as famílias relatam que tiveram seus modos de vida comprometidos com a mudança de localidade.
Antes podiam plantar e colher o que comer, o que se tornou impossível na nova morada, desta forma, o comprometimento da renda; a falta de oportunidades de lazer e encontro cultural, como era comum nas comunidades de origem, aliados às dificuldades de adaptação e de auto-organização para este novo começo, se refletem diretamente no equilíbrio de sua saúde física e mental. Segue mais um relato:
Foram feitas muitas promessas de melhorias nas nossas vidas, mas cadê? O melhor para mim, primeiro Deus, mas é a minha saúde e a água. à partir do momento em que você tem, primeiro Deus, a saúde e a água, o resto você corre atrás! Né não?
De um modo geral, a busca pelo diálogo tem sido uma constante no cotidiano dos atingidos reassentados e, para isso, têm solicitado constantemente reuniões entre a comunidade e o empreendedor, mesmo sem êxito. Desta forma, o convite do presidente da Câmara, para se apresentarem junto ao Poder Legislativo foi prontamente aceita e aproveitada como uma oportunidade de dar visibilidade às suas demandas e problemas.