17 de janeiro foi um dia especial para a comunidade São José do Arrudas, em Alvorada de Minas. Uma de suas moradoras, Maria Augusta dos Santos, a “dona Augustinha”, completou 100 anos. O centenário foi comemorado com missa em Ação de Graças e uma grande festa na comunidade.
A celebração movimentou a tarde de quarta-feira no povoado e foi prestigiada por um grande número de pessoas, entre familiares, amigos e vereadores. O folheto entregue aos convidados na missa descreve a trajetória e personalidade de Augustinha: “Mulher forte, lutadora e vencedora. Morou na roça, enfrentando muitas dificuldades. Ficou viúva muito cedo, mas com sabedoria, criou seus filhos, sozinha, mas com toda luta conseguiu educá-los e prepará-los para viver. (…) Seu ponto forte é o acolhimento, a solidariedade com todos. Mesmo na dificuldade encontrava forma de partilhar e ajudar o próximo. (…) Nos dias atuais, Augustinha segue firme, como exemplo de caráter, família e humanidade”.
Contadora de causos
Dona Augustinha adora contar causos e lembranças. Ela nasceu em Itapanhoacanga, morou em Teodoro e mudou-se para São José do Arrudas em 1961, quando se casou. Nessa época, o local era chamado de Córrego do Sossego e seu marido, João Peixoto, trabalhou na obra de abertura da rodovia MG 010. “Lembro que o movimento de terra para construção da estrada era grande. Foi tudo feito na cacunda dos burros, tinha os burrinhos que ficavam pra lá e pra cá, pra lá e pra cá… Eles carregavam a terra até os aterros. Todos que tinham burros alugavam para a construtora”, relata.
Sempre sorridente, dona Augustinha expressa alegria e amor pela vida. Ao compartilhar suas lembranças, ela descreve com bom humor até mesmo as dificuldades, como as de transporte e deslocamento para outras cidades: “Naquele tempo, o ônibus se chamava jardineira. A gente demorava um dia pra chegar em Belo Horizonte. O povo levava uma quantidade de trem… era limão, farinha, feijão, doce em calda, galinha e até porco (risos). Tinha uma prateleira de taquara onde ficavam as galinhas vivas, uma por cima da outra. Vendíamos na rodoviária. Uma vez, um doce em calda começou a escorrer na jardineira e as pessoas diziam: ele está chorando, não quer ir não”, conta, aos risos.
Nos tempos antigos, havia ouro em abundância na região e o garimpo era uma das alternativas econômicas das famílias. “Eu tirava ouro com minha mãe e minha irmã Ana. Eu tinha um tio que tirava muito ouro e a gente lavava o cascalho que ele jogava fora. Vendíamos o ouro e comprávamos roupas, fumo e ajudávamos em casa. Eu comprava um pacote de biscoito tão grande que quase não aguentava carregar…(risos). A gente comprava também um pano que chamava mariposa, tinha de todas as cores”, descreve Augustinha.
Referência para as novas gerações
“Para nossa equipe é uma honra conhecer e conviver com dona Augustinha, uma importante referência para sua comunidade e região. Aos cem anos, ela é um exemplo de participação e engajamento comunitário, presente na organização das festividades religiosas e nas reuniões da ATI”, diz Camilla Almeida, coordenadora territorial da Assessoria Técnica Independente – ATI 39 Nacab.
Augustinha é uma memória viva, que acompanhou diversas mudanças no território, incluindo as causadas pela chegada e ampliação das operações minerárias na região. Na edição nº 18 do Informativo da ATI 39, de maio de 2023 (págs 11 e 12), ela conta a história de São José do Arrudas e responde a uma entrevista em que descreve alguns impactos, transformações e suas perspectivas para o futuro. Confira aqui.
Parabéns, muita saúde, força e felicidades à dona Augustinha!
Reportagem: Patrícia Castanheira e Brígida Alvim
Fotos: Zaíne Crispim, Patrícia Castanheira e arquivo da família de dona Augustinha.