NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Shopping da Minhoca organiza lista de beneficiários e inicia cadastro no PTR

Produtores, comerciantes e artesãos do local se reuniram para autoidentificação e reconhecimento das pessoas atingidas da localidade

Cumprindo uma importante etapa para o acesso ao Programa de Transferência de Renda (PTR), na tarde desta segunda-feira (21/02), trabalhadoras e trabalhadores do Shopping da Minhoca promoveram um encontro para o chamado processo de autoidentificação e reconhecimento.

O objetivo foi construir uma lista de todas as pessoas, entre produtores, comerciantes e artesãos, que terão direito a receber o PTR, pois possuíam algum tipo de relação com o Shopping da Minhoca e foram prejudicadas com a contaminação do Rio Paraopeba pelos rejeitos da Vale. O cadastro no local já começou nesta terça-feira, 22/02. 

Mais de 90 pessoas participaram do encontro para o processo de autoidentificação e reconhecimento no Shopping da Minhoca

Foto: Marcos Oliveira

O local, um tradicional comércio de itens de pesca às margens da BR-040, entre Caetanópolis e Sete Lagoas, há 3 anos aguarda um auxílio econômico. Ele foi indicado pelas Instituições de Justiça como prioritário para os novos cadastros a serem realizados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Isto porque, assim como o quilombo de Pontinha, a comissão local de atingidos já havia ingressado com pedido judicial para inclusão no extinto Pagamento Emergencial, mas na época o pedido foi negado pela Vale.  

Classificado pela FGV na categoria Povos e Comunidades Tradicionais, para o cadastramento do Shopping da Minhoca, um passo importante e necessário é autoidentificação e reconhecimento das pessoas como pertencentes ao coletivo. Para isso, foi promovido um encontro conduzido pela própria comissão local de atingidos, com apoio do Nacab, que reuniu mais de 90 pessoas. 

O encontro teve início com 18 relatos de pessoas ou grupos de trabalhadores e trabalhadoras que não integravam a lista de integrantes do Shopping da Minhoca, elencada pelo Ministério Público de Minas Gerais, no momento de criação da comissão de atingidos local. Esses depoimentos apresentaram os motivos destas pessoas também serem parte do cotidiano das barracas às margens da rodovia e, por isso, terem direito ao PTR. Em seguida, foi aberto um processo de votação secreto, para o reconhecimento ou não como parte do grupo e atingida pelo desastre-crime da Vale.

Após mais de 4 horas de reunião, todas as pessoas que trouxeram seus relatos de atingimento foram reconhecidas como pertencentes ao Shopping da Minhoca.

O comerciante Breno Ribeiro, que fornece gelo para as barracas do local, foi um deles: “Estou muito feliz de ter sido reconhecido pela maioria, pois caiu muito a minha venda. Eu cheguei a ficar dois meses com a máquina de gelo desligada, pois não tinha para quem vender, já que entre 70% e 80% da minha venda é no shopping da minhoca, por causa dos pescadores (que não podem mais pescar no rio Paraopeba). Tenho gratidão por ter sido reconhecido, pois todo mundo está no mesmo barco”, contou. 

Breno Ribeiro, fornecedor de gelo para as barracas do Shopping da Minhoca | Foto: Marcos Oliveira

Retomada de projetos pessoais

A expectativa local é estabilizar a situação financeira com o auxílio financeiro do PTR, pois muitas pessoas se viram praticamente sem renda após o desastre-crime da Vale.

“O prejuízo foi grande e a gente nunca vai conseguir recuperar tudo, mas é satisfatório ver que o nosso trabalho é valorizado e que a gente vai poder recuperar pelo menos uma parte do prejuízo. A questão financeira tira o sossego, não tem como negar, e o auxílio vai ser de grande ajuda para todo mundo conseguir trabalhar melhor e, aos poucos, as coisas voltarem ao normal”, afirmou Isabela Campos, que trabalha no atendimento de uma barraca e como fornecedora de pastel. 

Isabela Campos, trabalhadora de uma das barracas do local | Foto: Marcos Oliveira

Mais que um auxílio, o valor do PTR representa a retomada de projetos pessoais, como descreveu Arlene Pereira, fornecedora de iscas e peixes.

“Trabalhar a gente trabalha até demais, mas retorno não está tendo. Hoje eu crio um pouco de iscas, vendo quando os barraqueiros acham que convém comprar, mas a venda dos peixes praticamente parou. Hoje estou com muita coisa parada, como o tratamento dos meus dentes, da minha enxaqueca e da reforma da minha casa, que está cheia de coisas para fazer, então tenho projetos demais para esse dinheiro”, desabafou. 

Arlene Pereira, fornecedora de iscas e peixes para o Shopping da Minhoca | Foto: Marcos Oliveira

Cadastramento

Após a reunião de autoidentificação e da votação para o reconhecimento das pessoas atingidas da comissão, o passo seguinte, antes da efetivação do pagamento, é o cadastramento dos trabalhadores, trabalhadoras e suas famílias.  Este ocorrerá entre os dias  22 e 24 de fevereiro.  

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Fotos e reportagem: Marcos Oliveira
Edição: Leonardo Dupin e Raul Gondim