NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Shopping da Minhoca recebe primeiro auxílio após desastre-crime da Vale 

Conquista é resultado da mobilização coletiva e garante a dignidade a profissionais que viram a renda cair com a proibição da pesca no Paraopeba

O dia 1º de abril de 2022, uma sexta-feira, ficará marcado na memória das trabalhadoras e trabalhadores do Shopping da Minhoca como um dia de grande simbolismo, mais de três anos após o desastre-crime da Vale que alterou completamente suas vidas.

Foi nesse dia que as pessoas do local, que vivem do comércio de iscas e itens de pesca às margens da BR-040, entre Sete Lagoas e Caetanópolis, receberam pela primeira vez o auxílio financeiro concedido às pessoas atingidas pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão em 2019. Em fevereiro, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), empresa responsável pela gestão do Programa de Transferência de Renda (PTR), esteve no Shopping da Minhoca e realizou 274 cadastros para recebimento do auxílio.

O primeiro pagamento gerou grande comoção pelos trabalhadores, que desde o início do processo de reparação vêm lutando para serem reconhecidos como pessoas atingidas. 

Marilei Alves | Foto: Marcos Oliveira
“Este vai ser um 1º de abril que vai ficar na história. Meia noite eu já estava olhando meu telefone, olhei 2h, 5h da manhã e nada. Quando foi 11h20 o valor caiu na minha conta. Fiquei tão feliz, mas tão feliz que eu gritava: caiu! O sentimento é de gratidão, pois em novembro de 2019 eu falei que se o pagamento não saísse para todos, não era para sair para mim; e hoje eu sei que saiu para todos. Então, a vitória é nossa, de todos que estão na luta!”, celebrou Marilei Alves, vendedora de iscas e itens de pesca.

Marilene Rocha, mais conhecida como ‘Lena’, e que também tem uma barraca no Shopping da Minhoca, falou sobre a emoção de ver a quantia na conta e a expectativa para o futuro.

Marilene Rocha | Foto: Marcos Oliveira
“O sentimento é de vitória, de uma luta que juntou todo mundo e graças a Deus conseguimos. Meu coração está saltitando, quase pulando para fora e a expectativa agora é reservar esse dinheiro, para não passar dificuldades, porque de 2019 para cá nós passamos aperto. Então a gente vai poupar, economizar, para não passar dificuldade de novo”.

O barraqueiro Juvenil Pereira, popular ‘Pernil’, diz que o sentimento é de agradecimento e satisfação pelo trabalho realizado.

Juvenil Pereira | Foto: Marcos Oliveira
“Na hora que ficamos sabendo que iam depositar o pagamento, gritamos, abraçamos, com muita emoção, porque esse dinheiro vai nos salvar muito. A gente fica agradecido com o que saiu, com o que vai sair, e de agora para frente eu tenho certeza de que não vai ter erro, que vai dar tudo certo. A gente está trabalhando sem brincadeira, de forma séria, para sair as coisas bonitinhas e ainda tem muita coisa pela frente!”.

Luta por reconhecimento

Desde 2019, as famílias do Shopping da Minhoca lutam para serem reconhecidas como atingidas pelo desastre-crime. Inicialmente, a Vale havia estabelecido um critério de concessão do auxílio que incluía somente as comunidades que estivessem a 1km de distância do rio Paraopeba.

Porém, mesmo não estando dentro da faixa territorial reconhecida pela mineradora, a atividade no Shopping da Minhoca foi profundamente afetada pela proibição da pesca na bacia do Paraopeba, acumulando uma perda de cerca de 70% da renda de seus trabalhadores, segundo relatos e estudos realizados pela ATI Paraopeba Nacab.

Após mobilização das comunidades da bacia da Paraopeba, que questionaram os critérios excludentes para recebimento do auxílio da Vale, o acordo de reparação assinado em fevereiro de 2021 estabeleceu o Programa de Transferência de Renda, com novas regras construídas a partir de uma consulta às pessoas atingidas.

A inclusão do Shopping da Minhoca no PTR, bem como sua priorização no momento do cadastro, foi estabelecida pelas Instituições de Justiça que assinaram o acordo (Ministério Público de Minas Gerais, Defensoria Pública do Estado e Ministério Público Federal). A decisão ocorreu também porque os trabalhadores do local já haviam entrado com pedido judicial para recebimento do auxílio da Vale, mas que foi negado à época. 

2022-04-01 - Depoimentos sobre o recebimento do PTR no Shopping da Minhoca

Junto com o primeiro pagamento do PTR no dia 1º de abril deste ano, o Shopping da Minhoca recebeu também a primeira parcela retroativa ao período de novembro de 2021, quando foi iniciado o programa.

Segundo a FGV, as parcelas retroativas do PTR serão pagas uma por mês, junto com o pagamento mensal, até que estejam liquidadas. Infelizmente, por questões relacionadas ao prazo de envio da documentação solicitada, algumas pessoas do Shopping da Minhoca receberão o primeiro pagamento do PTR somente em maio. 

Retroativo x Passivo

Além do retroativo do PTR, que já está sendo pago, os trabalhadores do Shopping da Minhoca também aguardam os valores do chamado “passivo do Pagamento Emergencial”. Esse valor é correspondente às parcelas do extinto Pagamento Emergencial que foram negadas pela Vale, anteriores ao início do PTR em novembro.

A expectativa das pessoas atingidas e da ATI Paraopeba Nacab é de que o pagamento do passivo seja aprovado pelas Instituições de Justiça e anunciado em breve, uma vez que está listado entre as atribuições da Fundação Getúlio Vargas no edital que selecionou a empresa gestora do programa.

O Nacab está à disposição de barraqueiros(as), fornecedores(as) e trabalhadores(as) para esclarecimentos e orientações. Para saber mais sobre o PTR, entre em contato com a FGV pelo canal 0800 032 8022, pelo e-mail [email protected] ou acessando o site www.fgv.br/ptr. 

Texto e fotos: Marcos Oliveira
Edição: Raul Gondim

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