NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

V Encontro Ecossistema recebe 400 pessoas de toda a região 3 em Pequi   

Com o tema “Construindo Projetos Práticos”, evento deu mais um passo para a reconstrução econômica do território

Sob um sol abrasador, mas muita disposição para promover a retomada econômica e o desenvolvimento territorial das pessoas e comunidades atingidas, aconteceu no último sábado, 18 de novembro, no município de Pequi, o V Ecossistema Ciclos de Cooperação e Transição – Construindo Projetos Práticos. O evento contou com a participação de cerca de 400 pessoas que, durante todo o dia, debateram o fortalecimento da auto-organização das comunidades para a criação de uma rede potente de iniciativas locais e de articulação de parceiros unidos para construir futuros comprometidos com novas relações e práticas produtivas. 

Comunidades atingidas debatem o fortalecimento da auto-organização para a criação do Ecossistema

“Nos quatro ecossistemas anteriores, os encontros trabalharam muito no fortalecimento de ideias do que poderia ser a reparação para o território e a busca de fortalecimento de parcerias com universidades, com o 3º setor, etc. Já nesse quinto encontro, a gente está trazendo algumas questões mais concretas para que as pessoas atingidas possam vislumbrar a concretização de projetos, tendo em vista também o anexo 1.1, que trata de projetos de demandas das comunidades atingidas”
Lauro Fraguas
gerente de reparação territorial da ATI e presidente do Nacab.

 

O encontro foi marcado pela diversidade cultural, contando com a presença de produtores rurais, comunidades indígenas, quilombolas, comerciantes, guardas de congado, assentados da reforma agrária e muitos outros grupos. Pela manhã, após uma breve exposição que trouxe a memória da construção do Ecossistema, os participantes se dividiram para conhecer de forma imersiva quatro experiências que podem ser multiplicadas nas comunidades da Região 3 para a transição econômica do território. 

O primeiro grupo participou do espaço Conservação, extrativismo e valorização das frutas do Cerrado, que aconteceu no assentamento da reforma agrária Roseli Nunes. Conduzido pelo professor do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, Teddy Marques, o espaço discutiu o uso sustentável dos frutos do Cerrado, abundantes na região, para impulsionar o desenvolvimento econômico dos territórios atingidos, garantindo qualidade alimentar e geração de renda. A experiência do projeto “Pequi Pontinha de Sabor”, desenvolvido no quilombo da Pontinha em parceria com a UFMG e o Instituto Sustentar, também foi compartilhada no espaço. 

Espaço "Conservação, extrativismo e valorização das frutas do Cerrado", conduzido pelo professor do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, Teddy Marques

O segundo grupo, que se reuniu no salão comunitário de Soledade (sede do encontro), teve como tema O potencial cultural da Região 3 como promotora de desenvolvimento. Junto com o convidado Carlos Faria, artista e mestre de saberes populares, o grupo debateu as potencialidades de se transformar a cultura (memórias, ritos, danças, cantos, festas, saberes e fazeres, comidas e religiosidade, dentre outras manifestações) em projetos econômicos. 

 A segunda convidada, Letícia Cabral, apresentou a experiência dos festivais “Igarapé Bem Temperado” e “Quintais e Quitandas”, de Paracatu, que valorizam a culinária local. Na oportunidade foi apresentada pelo Nacab a primeira versão de uma cartilha sobre as principais manifestações culturais presentes na Região 3. A ideia é que a população atingida dê continuidade na produção das informações da cartilha, para que ela seja um instrumento na elaboração dos projetos culturais nas suas respectivas comunidades.  

O artista e mestre de saberes populares, Carlos Faria, conduzindo o espaço "O potencial cultural da Região 3 como promotora de desenvolvimento"

O terceiro espaço, O protagonismo da juventude rumo a uma nova economia e bem viver nas comunidades, foi conduzido na comunidade de Pindaíbas pelo professor da PUC Minas e especialista de novas economias, Eduardo Brasileiro, e pela advogada popular Gabriele Consolaro. Ambos fazem parte da Rede Brasileira de Articulação da Economia de Francisco e Clara. O jovem Wanderson, mestrando da PUC, compartilhou a experiência desenvolvida em Brumadinho do concurso de empresas sociais, visando criar novos modelos de negócios nas comunidades atingidas, em contraposição à mineração.  

No espaço, os jovens falaram sobre novas economias, projetos de transformação social, geração de trabalho e renda e como podem construir soluções e novas práticas a partir dos sonhos e desafios da juventude.  

Jovens da bacia do Paraopeba debatem novas economias, projetos de transformação social e geração de trabalho e renda
Fizemos um caminho muito interessante com as jovens e os jovens que estavam conosco, para fazer com que eles identificassem os sinais de uma economia para a morte, que é o que faz inclusive as grandes empresas multinacionais projetarem e multiplicarem os crimes ambientais (...). E assim a gente foi criando um caminho do pensar, mas também do sentir, que fizesse com que eles identificassem o que significa construir outras economias. Portanto, processos coletivos de solidariedade, de cooperação, que façam com que o território seja fortalecido e valorizado também nas suas identidades e particularidades.
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Gabriele Consolaro
advogada popular da Rede Brasileira de Articulação da Economia de Francisco e Clara.

 

Por fim, o espaço Cuidando da água e do solo rumo a uma estratégia produtiva agroecológica, que aconteceu na comunidade de Campos e foi conduzido por Hérksson Maia, analista do Nacab em Pará de Minas, bem como pelos convidados Guilherme Fraissat e Isabel Freire, produtores locais que fazem parte da rede de agroecologia do município de Florestal. Neste espaço foram debatidos temas como as práticas agroecológicas voltadas para recuperação e preservação dos solos e das águas, além de alternativas para gerar mais qualidade produtiva e um ambiente mais saudável. 

Espaço Cuidando da água e do solo rumo a uma estratégia produtiva agroecológica, sendo conduzido por Hérksson Maia, analista do Nacab em Pará de Minas
No último ecossistema, pessoas da minha comunidade foram lá em Florestal e viram a apicultura, então já tem processo desenvolvido em cima da apicultura. Lá elas viram o manejo, e já estão evoluindo para isso. E o outro projeto que a gente tem, que é um sonho na comunidade, que é uma fábrica de farinha, que envolve tudo que vimos hoje: água, solo, agroecologia, então veio muito a calhar esse tema, justo aqui pra Soledade
Patrícia Campos
produtora da comunidade de Campos, município de Pequi.

 

No fim do encontro foi construída uma carta de princípios do Ecossistema. Esta deve nortear as práticas e projetos das comunidades, destacando elementos como cuidado com a natureza, agroecologia, bem viver e segurança alimentar, uma nova economia, respeito às diversidades religiosa e cultural, cooperação, justiça social, dentre outros pontos. O documento em consulta popular nas comissões da Região 3, está aberto para sugestões e validações. A versão final e aprovação será conduzida pela Rede de Atingidos da Região 3 para socialização com todos os envolvidos.  

Confira abaixo o álbum de fotos do encontro (arraste para o lado para mais fotos):

2023-11-18 – 5º Ecossistema Ciclos de Cooperação e Transição