NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Live sobre o acordo entre Vale e Estado é marcada por indignação e críticas à proposta apresentada pelo governo de Minas

As Instituições de Justiças (IJs), em parceria com as Assessorias Técnicas Independentes (ATIs), realizaram na noite desta terça-feira (10/11), uma live para levar a conhecimento e debate público o possível acordo que está sendo negociado entre o Governo do estado de Minas Gerais e a Vale. O encontro foi marcado pelas potentes falas das pessoas atingidas que, diante das IJs e do representante do Estado, denunciaram as consequências do crime cometido pela Vale, reafirmando que não concordam com o andamento do acordo de bastidores que vem sendo construído.

O coordenador do Comitê Pró-Brumadinho e representante do governo de Minas Gerais na live, Luiz Otávio Assis, apresentou um resumo com os objetivos do acordo, sem disponibilizar a íntegra do documento. A novidade apresentada durante a live é que foi encaminhado para a justiça um pedido de quebra de sigilo realizado pelas Instituições de Justiça, após as ATIs cobrarem transparência e participação das pessoas atingidas. O pedido foi reiterado pelo próprio Estado durante a live. De acordo com o juiz do caso, Elton Pulpo, a Vale tem 24 horas para se manifestar sobre a petição.

A centralidade das pessoas atingidas no processo e o pedido de justiça foram as questões mais apontadas pelos próprios atingidos e pelas instituições organizadoras do debate. Representantes dos atingidos das cinco regiões da bacia do Rio Paraopeba tiveram espaço de fala para apresentar ao Estado e as Instituições de Justiça suas posições.

Fernanda Soares Pinto Lousada, da comunidade do Shopping da Minhoca – município de Caetanópolis, foi uma das representantes da Região 3 e apresentou sua insatisfação com o andamento do processo, além de externar suas angústias e problemas causados pelo crime da Vale. “Só nós sabemos o que passamos. Com o rompimento da barragem morreram muitas pessoas, mas ainda tem pessoas morrendo por dentro todos os dias. Morrendo de sofrimento e depressão! Perdemos a nossa única fonte de renda e tem muita gente aqui que está dependendo de doações para sustentar a própria família. Disseram que teríamos voz e vez nesse processo, mas estão passando por cima da gente como tratores. Não estamos tendo o direito nem de saber o que está acontecendo. Tem que ter transparência”, clamou Fernanda.

Ainda segundo Fernanda Soares, é de extrema importância que as ATIs tenham acesso a todas as informações do processo para que possam manter os atingidos e atingidas informados sobre o andamento. “Às vezes a gente é meio leigo em algum ponto e são as Assessorias que traduzem pra gente o que está no processo”, disse. Fernanda também cobrou a participação efetiva e transparente do Governo do Estado. “Peço ao Estado que entre na causa olhando para os atingidos e não olhando apenas para o seu próprio interesse. Nossa voz precisa ser ouvida. Somos mais de 300 mil atingidos. Venham ver de perto o que estamos passando”, ressaltou.

O coordenador da ATI da Região 3 e membro do NACAB, Flávio Bastos participou como um dos mediadores da live e também ressaltou a importância da transparência no processo. “Precisamos fortalecer o processo de participação dos atingidos. Abrir o diálogo entre as partes envolvidas”, disse. O coordenador também aproveitou a presença dos atingidos e do representante do Governo de Minas para cobrar a ampliação do número de representantes de atingidos nas reuniões de negociação. “Nós das ATIs entendemos que não cabe indicarmos somente um representante de cada região para participar das reuniões. Precisamos debater com o Estado esse processo de participação. Construindo metodologias e um calendário que garanta de forma eficaz a participação dos atingidos”, destacou Flávio.

Helder Magno da Silva, Procurador da República no Ministério Público Federal em Minas Gerais também apresentou a preocupação em relação a não participação dos atingidos na proposta de acordo apresentada pelo Governo de Minas. “O que estamos discutindo agora com os atingidos já estava em ‘gestação’ pelo Estado desde março deste ano. E hoje (novembro) o que a gente vê, efetivamente, é que ainda não houve discussão com os atingidos. Então, ao meu ver, é um problema sério de uma visão autoritária nesse processo, de entender que é nos gabinetes que se consegue chegar a uma boa solução para o povo”, ressaltou o Procurador Helder Magno.   

A reunião virtual aconteceu via Youtube, no canal da Extensão Puc Minas, e chegou a ter 1.800 acessos simultâneos e perspectiva de mais de 5.000 pessoas participando ao vivo. Na manhã seguinte ao encontro já contabilizam mais de 11.500 cliques. Fortalecendo ainda mais a importância do assunto para as pessoas envolvidas e também para a opinião pública de forma geral.

A transmissão continua disponível na plataforma digital. Assista:

Texto: Márcio Martins / Assessoria de Comunicação ATI R3 – NACAB.

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