NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Terceiro encontro de troca de experiências movimenta Região 3 da bacia do Paraopeba 

Com crescente participação das pessoas atingidas, encontros de intercâmbio fortaleceram a auto-organização comunitária para reconstrução econômica do território

Aconteceu no último sábado, 27 de maio, o 3º Encontro Ecossistema Ciclos de Cooperação e Transição: Construindo o Mundo que Queremos. O evento foi realizado na comunidade de Ribeirão do Ouro, município de Florestal, e foi promovido pelo Nacab, Insea e Instituto Sustentar, com o intuito de fortalecer a auto-organização comunitária, envolver parceiros como universidades e poder público no processo de reparação, através de uma transição econômica com a criação de redes de trocas de experiências, saberes, tecnologias e produtos desenvolvidos nos territórios.   

Esse é terceiro encontro de troca de experiências em intercâmbio da Região 3 da bacia do Paraopeba, território atingido pelo desastre-crime da Vale na Mina Córrego do Feijão em 2019. O primeiro aconteceu em 1º de abril, na comunidade Vista Alegre, em Esmeraldas, como uma projeto-piloto (experiência teste) e reuniu cerca de 75 pessoas atingidas. O segundo ocorreu no dia 15 de abril na comunidade de Beira Córrego, em Fortuna de Minas, contando com cerca de 140 participantes. Dessa vez, mais de 200 pessoas de toda a região participaram do evento, que ocupou todo o dia com atividades formativas, culturais e trocas de experiência. 

Pela manhã, após um momento de acolhida, os participantes se dividiram para conhecer de forma imersiva cinco experiências produtivas realizadas na região. O objetivo foi realizar uma experiência de troca de conhecimento e refletir como as diferentes experiências podem ser adaptadas e multiplicadas nas diferentes comunidades, em um processo de transição que visa reconstruir os territórios afetados pelo desastre-crime da mineradora Vale, consolidando ecossistemas cooperados. 

Experiências de intercâmbio

Conheça as cinco experiências visitadas durante o terceiro encontro:

Unidade de laticínios do campus Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Nessa visita, os participantes do encontro conheceram uma agroindústria de processamento de produtos lácteos e puderam conversar sobre normas técnicas e custos de produção, legislação, comercialização, dentre outros temas.
Apicultura e psicultura na comunidade de Tapera
Foram debatidas as possibilidades de produção dessas culturas, formas de manejo, fabricação de produtos e seus derivados, processamento e regulamentação, acesso a mercados, dentre outros temas.
Sistema Agroflorestal/Permacultura em Ribeirão do Ouro
Em visita ao sítio das Mangueiras, as pessoas puderam conhecer uma experiência de produção agroecológica em que se sobressaem a diversificação produtiva, recuperação de áreas degradadas e de nascentes, modelos de bioconstrução (moradia).
Quintais produtivos e projetos de Turismo de base comunitária em Ribeirão do Ouro
Foi discutido o reaproveitamento dos recursos naturais, sistema de irrigação, coletiva seletiva, experiência de implementação de turismo ecológico, dentre outros temas.
Sistema Agroflorestal na comunidade Catatau
As pessoas conheceram um sistema agroflorestal consorciado com a produção de hortaliças e o modelo de comercialização, que ocorre através do sistema Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA). Temas como otimização do espaço, aplicação técnicas de recuperação do solo e cuidado com a qualidade da água, através do sistema de esgotamento sanitário adequado, foram discutidos.

Instalações pedagógicas

Na parte da tarde, as pessoas atingidas participaram de um espaço chamado de instalações pedagógicas. Elas conversaram sobre possíveis ações a serem realizadas no momento de retorno aos territórios, como forma de seguir construindo o ecossistema e a transição produtiva (econômica). 

Leila Regina, especialista da gerência de reparação socioeconômica da ATI Paraopeba Nacab

“Hoje conhecemos cinco experiências que são muito exitosas na região e que podem ser multiplicadas para outras localidades. Pessoas de toda Região 3 tiveram contato com essas experiências para que pudessem se perguntar: ‘a partir do que vimos e ouvimos, como saímos? Como damos continuidade e de fato concretizamos projetos nos nossos territórios?'”, instigou Leila Regina da Silva, especialista da gerência de reparação socioeconômica da ATI Paraopeba Nacab. 

Durante o espaço da tarde, também foi retomada toda a trajetória das pessoas da região desde a identificação dos danos do desastre-crime, até a construção de projetos que visam captar recursos através o Anexo I.1 do Acordo Judicial de Reparação. 

Trocas continuam

Os intercâmbios entre as comunidades atingidas pelo rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão na Região 3 da bacia do Paraopeba são uma estratégia da ATI Paraopeba Nacab, juntamente com as comissões de pessoas atingidas, que busca fortalecer a luta pela reparação. Assim, seguindo o plano de trabalho da ATI, outros intercâmbios devem acontecer nos próximos meses envolvendo os municípios da Região 3.   

"Eu levo para Fortuna essa grande oportunidade de crescimento, da gente trabalhar juntos e construir coisas que vão ser mais saudáveis, uma agricultura mais orgânica, mais viva, respeitando o meio ambiente".
Ricardo Augusto da Silva
morador de Fortuna de Minas
"Pra mim, foi bacana pra caramba. Eu fiquei olhando cada detalhe, cada coisinha, cada plantinha, pra ver como eu vou fazer daqui pra frente. O que a gente precisa mesmo é aumentar mais esse movimento, para que as pessoas vejam que nem tudo está perdido. A Vale fez alguma coisa de ruim, mas nós todos podemos fazer melhor do que ela".
Ilma Assunção Ribeiro,
moradora de Casa Branca, em Fortuna de Minas
"Eu tive que me reinventar depois do rompimento da barragem. Eu vi na universidade lá que tudo que a gente vem almejando para comunidade, não está tão distante. Os custos são altos, mas a gente pode formar parcerias e buscar implantar um mini laticínio. Ou talvez até mesmo uma estrutura maior para toda região, porque a gente vê que outras comunidades têm o mesmo interesse. A gente vê que a gente não tá sozinho."
Juliano Barbosa
Morador de Córrego de Areia, em Fortuna de Minas
"Eu faço doce de leite na minha folga e tenho intenção de futuramente crescer. Meu sonho é montar alguma coisa pra mim, não ter que trabalhar pros outros. Eu amei [o encontro], tirou minhas dúvidas. Eu tinha muitas dúvidas sobre produção e empreender."
Ana Paula Januário
moradora de Cachoeirinha, em São José da Varginha
"Correspondeu às expectativas que eu tinha, de vir aprender sobre a apicultura. Eu quero produzir em casa abelha sem ferrão, que pode ser produzida no próprio quintal de casa. Pra mim foi muito produtivo."
Luci Pereira de Souza
moradora da comunidade dos Campos, em Pequi
Terceiro encontro de troca de experiências em intercâmbio movimenta Região 3

Texto: Leonardo Dupin 
Imagens: Karina Marçal, Marcos Oliveira, Grax Medina, Daniel Drumond, Leonardo Dupin 
Edição do vídeo: Daniel Drumond 
Edição de Texto: Raul Gondim 

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