NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Famílias de Gondó, atingidas pela Anglo American, recebem apoio de entidade internacional

Apoio vem da London Mining, organização que repassa aos acionistas os impactos das ações das mineradoras inglesas em comunidades atingidas

Lideranças da comunidade rural de Gondó, em Conceição do Mato Dentro, buscam apoio para saírem de situação de recorrente atingimento pelas operações do complexo Minas-Rio, da mineradora Anglo American. Há dois anos, a comunidade aguarda reassentamento, por não suportar mais conviver com os danos gerados pelas operações da segunda maior mina a céu aberto do mundo. Algumas das famílias foram retiradas de Água Santa e reassentadas em Gondó, há mais de uma década. A comunidade foi extinta para dar lugar à barragem de rejeitos da Anglo American. A partir da recente delimitação do território, feito pela Prefeitura de Conceição do Mato Dentro, e dos estudos da ATI Nacab, foi possível identificar que 24 famílias de Gondó estão sendo reatingidas. 

Para chamar a atenção para o atraso da entrega de proposta do Plano de Reassentamento pela mineradora e para as violações as quais têm passado, a partir de julho deste ano, a Comissão de Atingidos de Gondó direcionou cartas pedindo apoio de instituições nacionais e internacionais de defesa de direitos humanos. A London Mining, organização sem fins lucrativos que tem a finalidade de ajudar as comunidades atingidas pela mineração inglesa, atendeu prontamente o chamado. Para entender melhor a situação e propor ações de apoio, a entidade fez reunião online, no dia 24 de julho, com representantes da comunidade e a Assessoria Técnica Independente ATI 39 Nacab. 

Jesoares, Maria Aparecida, Magda e Valter representaram Gondó na reunião com a London Mine

Pelo escritório do Nacab, em Conceição do Mato Dentro, quatro representantes de Gondó conversaram com a representante da London Mining, Diana Salazar, em Londres. Os moradores Valter de Souza Peixoto, Magda Teixeira Soares, Maria Aparecida de Matos e Jesoares Damazo Silva compartilharam suas vivências e angústias, e reforçaram o pedido de apoio, para que não tenham de esperar mais tempo pela proposta de reassentamento da empresa.

Desde maio, a comunidade está à espera da primeira versão da proposta de Plano de Ação de Reassentamento (PAR), da Anglo American. A empresa havia se comprometido, na última oficina do PAR que teve com a comunidade, em abril, a entregar o extrato da proposta no dia 15 de maio. A expectativa das famílias era de que, a partir dessa data, pudessem conhecer a proposta de valores, critérios e demais pontos do Plano de Reassentamento. E, junto com a ATI Nacab, fizessem a análise e seguissem com a negociação. No entanto, a entrega ficou condicionada à aprovação em uma reunião do conselho da mineradora, em Londres, que tem data prevista para setembro.  

Relatos e encaminhamentos

Valter contou que é reassentado desde 2011 em Gondó e que mora a mil metros da mina. A família dele convive diariamente com impactos de poeira, ruídos e explosões. Ele destaca que ali vivem outras famílias, com crianças, e se preocupa com a exposição delas à poluição, inclusive em estarem consumindo alimentos com pó de minério. Por outro lado, ele também teme não ter garantido todos os direitos no local de destino do reassentamento. 

Sr. Valter Peixoto, relatou problemas e angústias da comunidade
"O acesso que tenho é bom, é perto da cidade. O carro escolar chega na porta para pegar as crianças para levar para a escola. A gente tem medo de ir para um lugar que não tenha isso. Jamais que a gente queria sair de onde mora e tem as coisas, mas não dá para continuar convivendo com os impactos da mineração. A gente pede demais a colaboração, ajuda e suporte, para sair do sofrimento que estamos passando".
Valter de Souza Peixoto
morador de Gondó
“Sugiro que vocês mirem também outras coisas que possam perder com o reassentamento e tentem listar e apresentar quais são. Na negociação, não vale observar só o preço da terra. Outros impactos, como a perda da pesca e prejuízos à agricultura, são questões que sustentam as comunidades rurais e têm de ser consideradas”.
Diana Salazar, da London Mining
Coordenadora da London Mining na América Latina
“Lá em casa tem muita poeira, as folhas de banana ficam sujas. Quando passa pano na casa, fica um pó preto, que a gente acha que é de minério. Meu pai tem 88 anos e é um dos moradores mais velhos de Gondó. Essa coisa de ficar adiando a proposta, causa muito sofrimento. Ele chora, fica ansioso e vai adoecendo. É muito ruim essa situação. Nós já temos o local escolhido, temos muitos sonhos de recomeçar a vida em outro lugar, mas a empresa só fica adiando e a ansiedade e tristeza estão adoecendo minha família”.
Magda Teixeira Soares
Moradora de Gondó

Diana acolheu todas as falas, tirou as dúvidas, contribuiu para as reflexões e sugeriu ações para auxiliar a comunidade. Uma delas é de promover uma conversa entre representantes de Gondó e moradores de comunidades reassentadas pela Anglo American em outros países, como por exemplo, na Colômbia, Chile e África do Sul. O objetivo, segundo Diana, é estimular trocas de experiências sobre situações de modalidades de reassentamento, para que as comunidades, em rede, possam alertar umas às outras sobre os riscos de perdas e fortalecerem as estratégias para conquistas de direito. 

Diana Salazar, da London Mining, deixou o canal aberto às pessoas atingidas

Ao final, Diana deixou o canal aberto para o diálogo e para receber materiais informativos e repassar para acionistas: Buscamos saber sobre os impactos das mineradoras no Brasil e em outros países na América Latina, para aproximar as vozes das comunidades da companhia em Londres. Levamos informações aos acionistas, para que eles possam cobrar decisões das empresas em que investem”. 

Geovane Assis, coordenador territorial de Córregos e Gondó, da ATI 39 Nacab, avaliou positivamente a reunião e o posicionamento da London Mining de contribuir para que as famílias atingidas sejam ouvidas. “A London Mining oferece apoio para divulgar internacionalmente toda a situação de danos e impactos que a comunidade vem sofrendo, no sentido de denúncia e exposição. Também propõe acompanhar todo o processo, para que toda a negociação seja feita de forma transparente, clara e respeitosa para com as famílias. A gente, enquanto assessoria, espera que esse apoio seja estendido às demais comunidades atingidas que estão em processo de reassentamento pela Anglo American. E que as articulações para garantias de direito sejam sempre feitas entre as comunidades e organizações”. 

Geovane Assis, coordenador territorial da ATI 39 Nacab, pautou também as demais comunidades que estão em processo de reassentamento

Reportagem e fotos: Brígida Alvim 
Comunicação ATI 39 Nacab