NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Moradores do Piraquara cobram pendências da Anglo American

Mesmo após reunião de conciliação, comunidade reassentada não tem resposta sobre assinatura de Termo de Ajuste de Conduta (TAC) 

Representantes do reassentamento Piraquara participaram de uma audiência de conciliação com a Anglo American, no Ministério Público de Conceição do Mato Dentro, em maio. O objetivo foi discutir sobre o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que trata de obrigações da mineradora em relação ao reassentamento. A reunião foi mediada pelo promotor de justiça Caio Bernardes e teve participação da Prefeitura de Conceição do Mato Dentro e da Assessoria Técnica Independente ATI 39 Nacab.  

A reunião foi solicitada pela comunidade, diante da falta de informações sobre a assinatura do Termo. As famílias reassentadas na Fazenda Piraquara aguardam há mais de um ano a conclusão do documento e a formalização da assinatura por parte da Anglo American. O TAC prevê, entre as responsabilidades cobradas por um inquérito civil público em andamento, a manutenção da Estação de Tratamento de Água (ETA) instalada pela mineradora e o fornecimento gratuito de água para os reassentados e seus familiares.  

Ludmilla Silva, reassentada, desabafou sua insatisfação com a demora durante a reunião: “São tantos anos falando a mesma coisa que não dá para entender se a Anglo quer resolver. Largamos prioridades e estamos aqui para resolver um problema que vocês criaram”. 

Em resposta, a advogada da mineradora, Luciana Gomes, alegou que a política interna da empresa impede a assinatura de acordos durante o período eleitoral e que por isso o documento não foi assinado em 2024. Ela informou ainda que está prevista uma reunião entre Anglo American e Prefeitura para tratar do TAC. 

Além da cobrança sobre a água, a comunidade expôs pendências de infraestrutura do reassentamento, como a instalação de lixeiras. A procuradora adjunta do município, Alessandra de Almeida, afirmou: “O imediato será tratado como imediato. O que depender de estudos, nós vamos atrás. Estamos tomando conhecimento agora das situações do município”. 

Outra pendência reforçada foi a ausência de uma área de convivência no reassentamento. Marinalva Jesus (Quena), primeira moradora reassentada na comunidade, destacou: “Tinha que ter um lugar igual era onde a gente morava”. Em resposta, Thais Silveira, representante da Anglo American, afirmou que a equipe pretende construir uma agenda com os moradores para discutir de forma coletiva a criação dessa área. 

Durante a conversa, as pessoas atingidas sugeriram áreas que poderiam atender à demanda, mas segundo a mineradora há entraves ligados à regularização fundiária. Esse impasse levantou outra questão ainda não resolvida no reassentamento: a titularidade das propriedades. Como encaminhamento, o promotor propôs que esse tema seja incluído como cláusula no TAC, para garantir a retomada e resolução da pendência. 

Ao final da reunião, foi informado que a assinatura do TAC seria adiada. A Anglo American e a Prefeitura alegaram dificuldades de agenda, relacionadas à proximidade de eventos locais e à necessidade de alinhamentos internos. Um novo encontro foi sugerido para o mês de setembro deste ano. Entre os encaminhamentos propostos pelo Ministério Público estão: 

  • Participação da comunidade na definição de todas as obras de infraestrutura; 
  • Transparência e retorno frequente sobre as demandas ligadas ao acesso à água; 
  • Prazo até 30 de agosto para que a Anglo American apresente uma solução sobre a falta de titularidade das propriedades do reassentamento. 

Ouça a reportagem em áudio:

Reportagem e áudio: Silmara Filgueiras 
Edição: Brígida Alvim 
Comunicação ATI 39 Nacab