NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Comunidades da ZAS apontam rumos para plano de reassentamento coletivo 

Está em fase final de ajustes o Termo de Acordo Preliminar (TAP) que servirá de base para o Plano de Reassentamento das comunidades da Zona de Autossalvamento (ZAS) e localidades da mancha de inundação da barragem de rejeitos da Anglo American, em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas. Em reuniões no dia 12 de março, com a ATI 39 Nacab, e nos 13 e 14 de março junto à Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Sociais (Cimos) do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), integrantes das comunidades deram suas contribuições ao texto do documento.  

As reuniões ocorreram na Escola de São José do Jassém. Foto: Brígida Alvim

 “Após as reuniões realizadas, a Cimos/MP está repassando e negociando com a Anglo American sobre mudanças em algumas cláusulas que foram discutidas com as comunidades. O TAP também está sendo analisado pelos poderes públicos locais. Caso as partes concordem com a redação do TAP, sua assinatura poderá se dar ainda essa semana”, explica Hellen Margarida da Silva, coordenadora territorial da ZAS na ATI 39 Nacab. 

Entenda o TAP

As discussões sobre o TAP iniciaram em 31 de janeiro, após proposta de acordo com a Anglo American, sugerida pela Cimos. Desde então, as comunidades, assessoradas pela ATI 39 Nacab, analisam e discutem com as demais partes interessadas alguns pontos do documento. O TAP tem como objetivo estabelecer premissas e regras para construção do Plano de Reassentamento Coletivo. Também para elaboração de acordo definitivo que poderá ser firmado entre as comunidades, mineradora, MPMG e Estado de Minas Gerais, e extinguir a Ação Civil Pública (ACP) que está em andamento.  

 Segundo a Cimos, o principal objetivo desses termos é agilizar o reassentamento das famílias que residem a jusante da barragem de rejeitos. 

Moradores analisaram e contribuíram com a escrita do documento. Foto: Patrícia Castanheira
“Estou aqui para entender o andamento do reassentamento do Jassém, Passa Sete e Água Quente, e analisar as condições do Beco. A área da ZAS hoje inclui apenas algumas famílias do Beco. A comunidade não pode ficar dividida. Estamos pensando nos problemas futuros que isso pode nos causar”.
José Miguel Rodrigues Silva
morador do Beco e presidente da Associação de São Sebastião do Bom Sucesso (Ascob)
“Espero que realmente aconteça o reassentamento de forma digna e que a gente tenha os modos de vida próximos ao que tínhamos no Passa Sete antes da mineração chegar, sem impactos da mineração, com água, oportunidades de lazer, vizinhos próximos e outras riquezas que sempre tivemos”.
Elizete Pires de Sena
moradora de Passa Sete

Participação das comunidades

 O processo de participação das comunidades está previsto na sentença judicial que determinou o reassentamento em setembro de 2023, assim como a elaboração e execução do Plano de Reassentamento por meio de procedimento negocial entre MPMG, Estado de Minas Gerais e mineradora. A participação é fundamental para que as ações previstas no Plano de Reassentamento possam atender às reais necessidades das famílias atingidas. 

Assessoradas pela ATI Nacab, as comunidades têm participado ativamente de todo o processo. Após várias reuniões preparatórias, houve eleição dos integrantes do Comitê Representativo das comunidades, definições sobre a governança e data de selagem. Ainda segue em discussão a metodologia para cadastramento das famílias que serão reassentadas. Contudo, o cadastro, que será realizado por empresas terceirizadas da Anglo American, também será acompanhado por profissionais da ATI. 

“A participação ativa das comunidades é indispensável nesta etapa de elaboração do Plano de Reassentamento, para que seja possível identificar e mitigar potenciais impactos decorrentes da futura realocação, garantindo desde já a preservação dos modos de vida e dos laços comunitários, afetivos, culturais e socioeconômicos. A ATI está assessorando às comunidades em todas as etapas, com objetivo de garantir o cumprimento da decisão judicial e de padrões técnicos. A expectativa é de que o Termo de Acordo Preliminar seja assinado nos próximos dias, possibilitando avançarmos na elaboração do Plano de Reassentamento”.
Josiane Guimarães
analista jurídica da ATI 39 Nacab
.“Temos feito uma negociação árdua para unir interesses diferentes de três comunidades, que envolvem centenas de famílias, mas procuramos fazer o melhor. Durante anos elas esperam sair da jusante da barragem e este é o objetivo principal de todos nós, envolvidos nestas negociações. Estou muito satisfeito porque as comunidades têm apresentado uma evolução grande na parte que considero mais difícil, que é ouvir, defender seus direitos e, ao mesmo tempo, saber negociar e chegar a um consenso. Os próximos meses serão de negociação intensa. Vamos contar com a intervenção de mediadores especializados que atuam no Ministério Público”.
Caio Dezontini
promotor do MP/Conceição do Mato Dentro

Reportagem: Patrícia Castanheira 
Edição: Brígida Alvim
ATI39 Nacab

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