NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Oficinas trabalham perspectiva das mulheres da Região 3 sobre danos do rompimento

Foram realizados nove encontros e os dados coletados durante as atividades serão levados para a Matriz de Danos

Na última semana, em uma parceria entre a ATI Paraopeba Nacab e a Consultoria Saberes Populares, foi realizada uma série de oficinas com as mulheres da Região 3 da Bacia do Rio Paraopeba. Foram momentos de trocas, de relatos sobre as suas vidas antes e depois do rompimento da barragem em Brumadinho, de olhar para as suas rotinas e dialogar sobre o que mudou a partir do desastre-crime da Vale. 

Todas as informações coletadas durante as atividades serão sistematizadas pela equipe da consultoria e utilizadas na Matriz de Danos, que é o documento que irá auxiliar o juiz a calcular os valores de indenização para os danos sofridos em todo o território.  

As atividades aconteceram em nove comunidades atingidas entre os dias 29 de novembro e 3 de dezembro. Além de quantificar e qualificar os danos específicos, a consultoria traz uma proposta de fortalecimento das mulheres, em busca de uma reparação justa e de sua autonomia na luta por direitos.  

Olhar diferenciado

Um destaque sobre as oficinas foi o fato de contarem apenas com a participação de mulheres, que puderam interagir de outra forma sem a presença dos homens. Para Leandra Gabriela Barcelos Moreira Vieira, de 24 anos e moradora da comunidade de Retiro dos Moreiras, em Fortuna de Minas, os homens sempre falam mais sobre a criação de gado e a pecuária, e as mulheres olham para a agricultura familiar, para a casa e bem-estar da família.  
“Foi interativo e muito produtivo. As mulheres sempre sabem mais do que os homens. Eles ficam mais para o mato e não sabem nada o que acontece. Eu gostei muito e deu para colocar em pratos limpos o que aconteceu com a nossa comunidade e onde mais nos prejudicou. Nas pequenas coisas, que aos olhos dos de fora ninguém veria”, afirmou Leandra. 

Já a moradora de Cachoeirinha, em Esmeraldas, Tatiana Campolina Diniz, de 38 anos, acredita que há um atingimento emocional das mulheres, principalmente na estrutura da casa e da família e que elas acabam sendo apoio de todo mundo. “Acho que seria importante ter um trabalho contínuo com as mulheres. Às vezes a gente pode descobrir algum problema que acontece dentro da casa da mulher e ela não tem oportunidade de falar na rua. Mas, em grupos, pode ser capaz de se abrir”, comenta.  

Metodologia

As oficinas fazem parte da Pesquisa de Mulheres que está sendo realizada pela ATI Paraopeba Nacab e executada pela Consultoria Saberes Populares. Antes do início do encontro, as equipes responsáveis entrevistaram algumas mulheres atingidas, gestores públicos municipais, lideranças de movimentos sociais e outras pessoas para formar um panorama da situação das mulheres da região e da presença de políticas públicas voltadas a elas.  

Durante as oficinas, foi construída uma dinâmica chamada ‘rio da vida’ a partir de relatos das mulheres. Em seguida, as participantes trabalharam em um mapa de suas casas e quintais, momento em que elas puderam trazer um pouco dos danos individuais.

Ao fim dos encontros, elas foram apresentadas a um importante instrumento chamado ‘caderneta agroecológica’, por meio do qual elas passarão um mês contabilizando tudo o que produzem, seja para consumo, trocas ou vendas. Assim, será possível calcular o que deixaram de produzir desde o desastre-crime.  

Em janeiro, as pesquisadoras da Consultoria Saberes Populares irão ajudar no cálculo dos valores de indenização dos danos sofridos pelas mulheres e dar o retorno das informações coletadas para todas as participantes.  

Assista ao vídeo e confira como foram as oficinas:
Ouça esta notícia:

Texto e narração: Bárbara Ferreira
Fotos: Bárbara Ferreira
Edição: Raíssa Lopes

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