NACAB - Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens

Reassentamento ZAS: Moradores do Beco temem divisão da comunidade

A ATI 39 Nacab realizou na noite do dia 21 de março, reunião com moradores do Beco, sobre o plano de reassentamento das comunidades localizadas em Zona de Autossalvamento (ZAS) e na mancha de inundação da barragem de rejeitos da Anglo American, nos municípios de Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas. A decisão judicial sentenciada em setembro de 2023 determinou à mineradora reassentar as comunidades que estão à jusante da barragem, citando Água Quente, Passa Sete e São José do Jassém. Porém 19 famílias do Beco foram inseridas na área de abrangência definida pela Anglo American para o plano de reassentamento. 

Por isso, a equipe da ATI tem buscado envolver moradores do Beco nas discussões sobre o reassentamento da ZAS, nas reuniões com o Ministério Público e com a mineradora. Durante reunião da última quinta-feira na comunidade, a equipe explicou sobre os cadastros socioeconômico, topográfico e patrimonial que serão aplicados por empresas terceirizadas da mineradora, dentro das áreas previamente definidas. Falou sobre o Termo de Acordo Preliminar (TAP) que está em fase de ajustes finais, com previsão de ser assinado entre as comunidades da ZAS, a mineradora, o Ministério Público, os municípios e o Estado de Minas Gerais. E, também, sobre o Plano de Reassentamento e a importância da participação das pessoas atingidas em todo o processo.  

A ATI, então, consultou a comunidade sobre o interesse pelo reassentamento. A resposta foi positiva, principalmente porque os moradores do Beco não aprovam a divisão da comunidade 

“O certo é reassentar toda a comunidade, para não separar os moradores e não perdermos os vínculos de amizade. Meu marido mora no Beco desde que nasceu e eu moro há 19 anos. Jassém é aqui perto, é onde minha família mora e será reassentada. Provavelmente ficarei longe dela”.
Aparecida Alexandrina da Lomba Silva
Moradora do Beco há 19 anos
“Se precisarmos reivindicar novos direitos no futuro e a comunidade for dividida agora, estaremos sozinhos, fracos, e tudo será mais difícil. Bom é sair todo mundo junto!”
Reginaldo Pereira da Silva
Morador do Beco desde que nasceu
“Antes de estar ou não na mancha de inundação da barragem, a comunidade já é atingida de várias formas. Não conseguimos produzir mais nada aqui, minhas galinhas estão ficando cegas, horta não vai pra frente! Estou desconfiada também da água”.
Aparecida de Fátima da Silva
Moradora do Beco há 35 anos

Cartografia social

A coordenadora territorial da ATI 39 Nacab, Fernanda Lima, alertou aos moradores que, no caso de alteamento da barragem de rejeitos, a comunidade do Beco pode ser ainda mais afetada no futuro, mas que ainda não há informação oficial sobre isso. 

Fernanda também explicou que a ATI Nacab está propondo, dentro do acordo para o reassentamento, de aplicar metodologia para ajudar a determinar os limites entre as comunidades e as relações sociais de vizinhança, econômicas e familiares. “A cartografia social é um processo de engajamento e mapeamento, com o envolvimento da comunidade. O objetivo é entender os limites geográficos das comunidades inseridas na Zona de Autossalvamento (ZAS), considerando ainda as relações familiares, sociais, afetivas e econômicas, com base nos modos de vida, para garantir seus direitos de realocação/reassentamento. Por isso, é importante que seja aplicada de forma complementar ao cadastro das famílias”. 

A partir desse diálogo com a ATI, moradores do Beco elegeram seus representantes para acompanhar as reuniões sobre o reassentamento da ZAS, além de também definirem que poderão participar outros moradores, já que os encontros têm sido abertos a todas as pessoas das comunidades. 

Programa de negociação

Enquanto buscam o direito ao reassentamento, a comunidade do Beco também aguarda resposta oficial da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad/Diamantina) sobre alternativas de negociações para as famílias atingidas pelas atividades minerárias, que venha substituir o Programa de Negociação Opcional (PNO), já desatualizado e, de acordo com a mineradora, finalizado em janeiro de 2024.  

No dia 5 de março, José Miguel Rodrigues Silva, presidente da Associação Comunitária de São Sebastião do Bom Sucesso (Ascob) – que abrange também Beco, Turco e Cabeceira do Turco – esteve em reunião no órgão ambiental, acompanhado da ATI, quando protocolou, em nome das comunidades, a solicitação da resposta. 

Confira vídeo sobre repasse dessa reunião:

Reportagem e fotos: Patrícia Castanheira 
Edição: Brígida Alvim 
ATI 39 Nacab 

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